Fugas - Viagens

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A Tunísia quer voltar a ser cenário de Hollywood

A Tunísia tem tanto de tudo que permite daquelas experiências que nunca ninguém pode apagar da memória. Tomar banho numa cascata no meio de um desfiladeiro sem mais turistas por perto. Parar o carro no meio da estrada e ficar boquiaberto a ver as cores que o sal pode ter a cada hora do dia no meio do deserto. Deixar uma pegada e acreditar por momentos que nunca nenhum pé pisou aquele pedaço de areia, de lago salgado, de montanha. Olhar para uma paisagem lunar e conseguir esquecer que há mais mundo, ou outra vista que não aquela, abrir muito os olhos e encher os poros e as veias de imagens de paralisar a mente e o coração. Encher os pulmões de terras de encantar. Porque a Tunísia, tanto da Tunísia, é tão especial e único que nem parece real, só pode ser cenário. Só que não é, e podemos tocar o chão, a rocha, sentir o ar, respirar fundo e levar tudo aquilo connosco, fazer daquilo parte de nós, para sempre. E sentir que estamos só nós no universo, que naquele bocadinho não existe mais nada nem ninguém, existimos nós porque se não existíssemos não podíamos sentir tudo com tanta intensidade e existe o que está diante de nós e à nossa volta porque o conseguimos ver e sentir, e então só pode mesmo ser real, ainda que pareça cenário.

Tunísia para todos

Comecemos pelo princípio, que não é o princípio, nem da Guerra das Estrelas como bem sabemos, nem da Tunísia cinematográfica — onde foram rodados mais de 130 filmes. Enfim, o cinema tem destas coisas, assina-se um contrato de fé absoluta, fé é fé, só pode ser absoluta. O mundo é aquele, aqui e agora, o tempo é o que quisermos que seja, o que aceitarmos que é, até pode nem ser nenhum, um intervalo, uma pequena abertura, nem sequer é preciso uma porta… ou se entra ou se fica de fora sem saber o que se perde. Quando as cortinas sobem é o que se quiser, fazem de nós o que quiserem e o mundo, o nosso, a realidade, desaparece, basta deixarmo-nos ir e só voltar à vida quando as luzes se voltarem a acender, aos poucos, esperamos, para não fazerem doer.

Final dos anos 1970, o guião de sempre, o bem contra o mal, o Sul da Tunísia e o início (que não é, já sabemos, o início) da Guerra das Estrelas. Foi assim que tudo aconteceu. Tataouine, no Sudeste não muito longe da costa e da ilha de Djerba (no cinema é Tatooine), é o planeta de Luke Skywalker.

Mas há mais, tanto mais. O deserto de Chott El Jerid (junto a Nefta, e a Tozeur, um oásis no Sudoeste, a uns 30 quilómetros da fronteira com a Argélia — duas cidades da mesma região, à segunda já lá iremos jantar e dançar num casamento) com o seu lago salgado, 150 quilómetros de deserto branco e uma única estrada, o jovem Luke a contemplar o pôr de dois sóis. Montanhas com casas trogloditas (aqueles que vivem dentro das montanhas, em casas escavadas na terra que protege do calor e do frio) onde os berberes (nómadas do deserto) viveram e alguns ainda podiam viver, a duna em que R2-D2 e C-3PO se despenharam (foi no início do Episódio IV: Uma Nova Esperança, de 1977, e estes robots, bem, estes robots são só dois dos mais conhecidos da história do cinema, dois dróides, um quase mudo, o outro capaz de falar milhões de linguagens, é o cinema, lá está).

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