Fugas - Viagens

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A Tunísia quer voltar a ser cenário de Hollywood

Há um aeroporto que serve Nefta-Tozeur mas sem querer cair em clichés nem fugir a nada do que a vida tem para oferecer, também é possível (e aconselhável) aterrar em Djerba, sem resistir às suas praias, sem deixar de visitar a sinagoga de Ghriba — apenas uma das que existem na ilha, é a mais antiga de África e os judeus acreditam que ali está guardada a cópia mais antiga da Tora. A ilha não é pequena e, dizem os tunisinos, quando lá se vai é difícil voltar a sair. Ali quase ao lado, a 45 minutos de viagem, há uma ilha bem mais pequena, a ilha dos Flamingos Rosa, inabitada e com dunas de areia branca e águas absolutamente translúcidas, como uma criança desenharia uma ilha se lhe pedíssemos. Conseguimos despedir-nos de Djerba mas confirmamos que não foi fácil deixar para trás as praias de areia fina, o mar a perder de vista, as ruas estreitas e as casas baixas e frescas, o peixe acabado de pescar.

Ninguém sugere que evite os mergulhos, os passeios de cavalo na praia, os almoços e jantares à beira-mar, os passeios pela Cidade Velha de Djerba ou de qualquer outra cidade da imensa e maravilhosa Tunísia. Apenas que se aventure um pouco mais para ocidente, em direcção ao deserto e à Argélia, parando em paisagens que deram cenários porque o são, de facto. Estão lá, às vezes imponentes e grandiosos, outras frágeis como o sal, à nossa espera, prontas para nos levarem de volta à infância ou a planos de filmes que se rodaram ainda não eramos nascidos mas que fazem, muitos deles, parte do nosso mundo e do que somos.

Uma impossibilidade chamada tamareira

Foi uma visita cheia de descobertas mágicas, mesmo para quem já há muito se entregou sem resistências ao fascínio de uma tâmara. As tâmaras vêm em todas as cores e têm todos os sabores sem nunca deixarem ser o que são. É diferente degustar uma tâmara na cidade (em cada cidade é diferente), num deserto de dunas de areia debaixo de um sol brilhante, ao anoitecer no meio de um oásis… Enfim, a tâmara, cada tâmara, é uma impossibilidade pronta a acontecer, a descobrir, a seduzir-nos.

Uma viagem a Omã, por exemplo, já lá vão onze anos, a cada paragem, uma tâmara, um mundo novo. Outra, ao acaso, Iémen, 2005, a tâmara de Saana, a tâmara de Shibam, a tâmara de Soqotorá, a ilha encantada onde uma parte da população recusa partir para o continente (a Península Arábica) antes do início da época das monções, quando os barcos não se aproximam e o aeroporto encerra. Quem fica, diz-se, entre Julho e Setembro, abriga-se na floresta e só se alimenta de tâmaras. Vai-se lá, em Junho, quando tudo está mesmo quase a mudar, e acredita-se, seja ou não verdade. A tâmara tem destas coisas.

A Tunísia e a tâmara. As tâmaras. Tozeur, no Sul, uma cidade que é um oásis no meio de um deserto de rocha e montanhas, mas com o Sara logo ali, a ocidente, em direcção à Argélia, já a espreitar. O Eden Palm, um oásis dentro de um oásis, um palmeiral com 700 mil tamareiras — um só macho a polinizar as 699 mil fêmeas. Moncef, uma espécie de consultor do Eden Palm, que forma guias e ainda ensina francês e alemão aos jovens, apesar de já ter ultrapassado a idade da reforma há uns anos, não esconde a emoção. Que bom. Nem todos os seus interlocutores se emocionam com igual intensidade. Mas basta um, basta uma, chega alguém disponível para o ouvir e para o olhar nos olhos e os olhos de Moncef brilham.

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