Quando o avião se aproxima do aeroporto de Nápoles vêem-se manchas brancas na encosta verdejante. O Monte Vesúvio está por perto mas ainda não se vislumbra no horizonte e não consta que alguma vez tenha expelido algo assim. São pedreiras. Provavelmente donde se extraíram parte dos recursos que ajudaram (e ajudam) a construir a Campânia, a segunda maior região italiana e a de maior densidade populacional.
É o terceiro ano consecutivo que visito a região, a Sul do país, ou, mais concretamente, na “canela” de Itália. O pretexto é a participação na Festavico, um festival gastronómico de características muito especiais, que decorre nos primeiros dias de Junho, em Vico Equense. Marcam presença nesta vila da península de Sorrento, a 40 quilómetros de Nápoles, alguns dos melhores chefs de cozinha do país, bem como outros ainda em busca de reconhecimento. O festival dura quatro dias com actividades divididas por diversos locais: junto à marina, numa estância balnear e no centro da localidade.
Os chefs emergentes entram em acção logo no primeiro dia, com degustações preparadas em bancas de cozinha armadas em estabelecimentos do centro da vila. Porém, não estão apenas em restaurantes e similares. Ocupam igualmente farmácias, lojas de roupa, agências de viagens, talhos, becos e esquinas das ruas principais. O resultado é um aglomerado de milhares de pessoas que percorrem as bancas, de copo, prato e senhas pré-compradas na mão. São raros os eventos e locais do mundo que se podem gabar de uma adesão popular tão massiva. Não se trata se uma festa de cozinha popular, mas sim em torno de propostas gastronómicas assentes na tradição, é certo, mas com um toque contemporâneo, por vezes bem arrojado.
Pela Festavico passam milhares de pessoas que não perdem a oportunidade de conviver com chefs e produtores de todo o país, num registo informal. Contudo, esta é uma região de grandes iguarias e óptimos restaurantes. Os queijos provolone, fiordilatte e a verdadeira mozzarella de búfala da Campânia, o limão de Sorrento, as massas e os enchidos locais são alguns dos exemplos que podem ser adquiridos directamente num produtor ou comprados e apreciados numa mercearia local. Igualmente de grande qualidade são os peixes e legumes, de águas e terras férteis em nutrientes. Uns e outros engrandecem a mesa, quer seja num restaurante simples na cidade, numa pizzaria, em locais históricos como o Hotel Caruso ou o Il San Pietro di Positano, ou ainda nos 2 estrelas Michelin da região, La Torre de Saracino (de Gennaro Esposito, o mentor da Festavico), Don Alfonso ou Quattro Passi. E o que dizer da doçaria local, da sfogliatella e dos gelados artesanais? Bom, não percamos o rumo.
Vico Equense é um bom porto de chegada e um bom ponto de partida para explorar as costas sorrentina e amalfitana e locais famosos como Sorrento, Amalfi, Positano, Ravello ou Praiano, já para não falar das ilhas de Ischia e de Capri, das ruínas de Pompeia, Nápoles ou o Vesúvio — o magnético e extinto vulcão que não nos deixa desviar o olhar, sempre que o encaramos, mesmo a quilómetros de distância.