Numa das manhãs estava prevista uma volta de barco pelo Golfo de Nápoles. Não acreditei que partisse a horas e acabei apeado. Porém, uma viagem que se perde, é uma outra que se ganha. Stefania e Fabio (ela proprietária do Il Luogo de Aimo e Nadia; ele um dos chefs, deste mítico restaurante de Milão) preparavam-se para sair de carro numa volta de reconhecimento pela região. Bastou uma porta aberta e as palavras mágicas, “Amalfi” e “Positano” para aceitar o convite.
De Amalfi a Positano
É sabido que os italianos são notáveis na arte de seduzir. Fico di Almafi era o nome do perfume que me fez imaginar num Alfa Romeo cabriolet dos anos 1960, com o vento pela cara, a serpentear a estrada nos montes escarpados da costiera amalfitana. A fantasia abrangia o casario encavalitado nas encostas, um empregado de laço escuro e casaco branco e um negroni num hotel com uma vista deslumbrante. Ah!, e um pôr do sol a compor o ramalhete, claro. Não é comum, mas por vezes a realidade ultrapassa mesmo a ficção. De facto, o cenário idílico junto à costa, numa estrada em curva e contracurva, supera o imaginário e até quase nos abstraímos que há vários pilotos de rali nas estradas e que o descapotável afinal é apenas um pequeno utilitário.
Stefania e Fabio tinham falado em almoçarmos no restaurante do Il San Pietro di Positano (Via Laurito, 2, Positano; tel.: +39 089 812080). A ignorância de entrar a bordo sem ter a viagem preparada tem as suas vantagens e o cenário com que nos deparamos torna-se ainda mais deslumbrante de surpresa. É difícil desviar o olhar da vila medieval de Positano, que se observa ao longe, a partir do terraço. Contudo, os detalhes neste mítico hotel de luxo dos anos 1970, encravado nas rochas, disputam a nossa atenção, como é o caso das escadas com desenhos ondulados a relva, a porta de latão com um enorme golfinho (reproduzido no logótipo do hotel), os apliques manufacturados por artesãos florentinos ou a mesa verde escura vinda de Portugal, cujos cantos irregulares lembram uma das rochas do local.
O restaurante do hotel, o Zass, tem uma estrela Michelin e a cozinha do chef Alois Vanlangenaeker é clássica e refinada. Porém, tal como a decoração do espaço, um ou outro prato podia ter um toque mais actual. Ainda assim, está à altura da comenda.
Depois do almoço, ainda há tempo para apanhar o elevador e descer os 90 metros que levam até à praia, apenas acessível a partir do hotel ou de barco. Apetece ficar por ali a tarde inteira, de negroni na mão, ou esperar para sermos raptados numa daquelas lanchas de madeira de frisos cromados. Acontece que La Dolce Vita era um filme e a realidade alerta-nos para o regresso. Vico Equense fica apenas a 22km, porém, com trânsito, a bela mas sinuosa estrada pode demorar mais de uma hora a percorrer.
Por Ravello
Muda o carro e os companheiros de viagem, mas não a paisagem ou o azul do Mediterrâneo. Desta vez o destino é Ravello e a viagem faz-se pela estrada que leva (e atravessa) ao parque regional do Monti Lattari, no lado oposto à costa. A vila, cuja fundação remonta ao século IV, é famosa pela sua localização privilegiada a 350 metros de altitude e pelo cenário da costa amalfitana em volta.