Fugas - Viagens

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    Ponta do Ouro, em Moçambique Gonçalo Cadilhe
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    No Equador Gonçalo Cadilhe
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    J-Bay, África do Sul Gonçalo Cadilhe
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    Cabo Byron, Austrália Gonçalo Cadilhe
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    Kaikoura, Nova Zelândia Gonçalo Cadilhe
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    Zunzal Gonçalo Cadilhe
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    Trindade e Tobago Gonçalo Cadilhe
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    Trindade e Tobago Gonçalo Cadilhe
  • A capa de Passagem para o Horizonte
    A capa de Passagem para o Horizonte

Aos 40 anos, Gonçalo Cadilhe decidiu que lhe faltavam viagens. Foi dar uma volta ao mundo

Por Mara Gonçalves

Viajante profissional há mais de duas décadas, Cadilhe diz-nos que sente agora a “plenitude do sonho realizado”, da “liberdade cumprida”. A odisseia de um ano seguindo as melhores ondas do planeta é contada no novo livro, “Passagem para o Horizonte”.

Há muito que Gonçalo Cadilhe dizia que “não estaria disponível para nada durante o ano dos 40”. A chegada “ao meio do caminho” seria dedicada exclusivamente “a si próprio”, para “festejar” esse marco e “fazer contas à vida: à que passou e à que esperava que viesse para a frente”, conta à Fugas.

Foi, por isso, mais um ano a viajar – “desde muito novo” que sabe que a sua “felicidade reside na linha do horizonte, ponto de fuga de todos os que trazem a irrequietude da viagem dentro da alma”, sublinha nas primeiras páginas – mas sem um contrato profissional definidor de destinos, prazos e experiências. A única linha orientadora era a concretização de um sonho antigo: correr o mundo no encalço das melhores ondas para fazer surf, uma paixão que o acompanha há tanto tempo que a considera “a coisa mais coerente” da sua vida.

Na verdade, como resume na obra, tudo começou com “uma provocação de um bom amigo: ‘Gonçalo, já seguiste os passos de Magalhães, já fizeste a Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, já repetiste a viagem do achamento das Ilhas das Especiarias. Quando é que fazes a tua viagem?’”, aponta o autor.

A resposta não se fez tardar e o resultado desse tal “aniversário irrepetível” é agora partilhado com os leitores em “Passagem para o Horizonte”, nas livrarias desde este mês. O 11º livro de um dos viajantes mais conhecidos do país relata as histórias e reflexões desta “experiência tão pessoal e íntima”, olhada seis anos depois, já com um “interesse mais distante e menos envolvido”.

“A minha lista das melhores ondas do mundo levou-me a lugares que estão fora dos roteiros habituais do turismo e que, para o bem e para o mal, enriqueceram de experiências e de histórias este livro”, conta. Desde Jeffreys Bay na África do Sul a Arugam Bay no Sri Lanka, o périplo de Gonçalo Cadilhe passou por locais como Ponta do Ouro em Moçambique, La Libertad em El Salvador, Mount Irvine Bay em Trindade e Tobago, Honolua Bay no Havai, Kaikoura na Nova Zelândia ou Nias na Indonésia.

Ao longo das 268 páginas (e de dezenas de fotografias) desfilam as ondas de quatro continentes, um mês do ano vivido em cada sítio para que a Natureza tivesse tempo de se desenrolar épica no areal (só em Punta Carola, nas Galápagos, o mar não chegou a frisar).

Há muito surf, portanto, mas também novas amizades, reencontros, dicas de viagem (por exemplo, verificar os horários dos transportes de modo a não chegar de madrugada a um sítio novo, truques para utilizar em aeroportos ou controlos de fronteira, informação sobre os passes de avião Round The World, entre outros), inúmeras peripécias de viagem e reflexões sobre as situações que foi vivendo em cada local, o mundo do surf, “as questões universais de todos os seres humanos que chegam àquilo que consideram ser o meio da vida” e um “olhar sobre o futuro”, nomeadamente como “perceber as limitações [da idade] e saber lidar com elas”.

“A Austrália [Kirra] e a Califórnia [Rincon] foram lugares onde fui buscar pistas para perceber como é que eu posso orientar a minha vida e o que posso esperar como surfista, de maneira a continuar a ter essa fonte de emoções e felicidade que é estar no mar”, avança. No entanto, a memória que tem mais presente nem é da melhor onda em termos técnicos – a primeira, Jeffreys Bay na África do Sul – ou da que o “deixou mais feliz” – a última, Arugam Bay no Sri Lanka –, mas sim a “deliciosa expectativa do próximo destino”.

Apesar de ser viajante profissional há mais de 20 anos, conhecia apenas quatro dos 12 mares por onde deslizou. Da Austrália ao Sri Lanka, “recebeu sempre o mesmo frémito e excitação de chegar a um lugar que não se conhece”. “É o que nos faz sentir extremamente vivos”, garante, admitindo “guardar alguma saudade – no sentido em que as viagens que fez a seguir não foram tão épicas –, essa expectativa do próximo destino, não só do lugar, mas das condições de mar, de saber se o astral estaria em alta e iria conseguir encontrar condições épicas no mar ou não”.

“Os primeiros cinco meses correram como se controlasse o universo, depois tive ali uma falha de alguns meses e nas últimas duas etapas voltou outra vez tudo a explodir num festival de sorte e alegria”, avalia. “Terminei com esta plenitude do sonho realizado, da volta ao mundo completa e da liberdade cumprida”. Talvez por isso não acredita que parta novamente com semelhantes desígnios (“não deixou esse sentimento do inacabado, não preciso de outra”) e se pudesse voltar atrás faria exactamente o mesmo itinerário (“para ver se desta vez tinha mais sorte”, nomeadamente nas Galápagos – “aquilo ficou-me atravessado e queria ver se ajustava contas com essa onda”).

“Ao longo de todo o ano senti que estava no cruzamento ideal da vida para equilibrar o que fui aos 20 e o que serei aos 60, nunca me senti tão em sintonia com o momento presente”, conta, recordando que “chegava à noite e não lhe apetecia dormir por achar que o melhor da vida estava a acontecer naquele momento e dormir era quase um sacrilégio”.

Aos 46 anos elege aquele como o seu “melhor ano” até agora. “Foi das poucas vezes na minha vida em que não estive dividido, não houve nenhuma parte de mim a puxar nem para nenhum outro lugar nem para nenhum outro tempo e acho que isso é uma boa medida da felicidade”.

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Passagem para o Horizonte
por Gonçalo Cadilhe
268 páginas, edição Clube de Autor
Preço de capa: 16€

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