Fugas - Viagens

  • Barco Rabelo no Douro entre Porto e Gaia. ©CASA ALVÃO, COLECÇÃO DO INSTITUTO DOS VINHOS DO DOURO E DO PORTO, I.P.
    Barco Rabelo no Douro entre Porto e Gaia. ©CASA ALVÃO, COLECÇÃO DO INSTITUTO DOS VINHOS DO DOURO E DO PORTO, I.P. DR
  • Carregação de pipas de vinho no Alto Douro. Durante séculos, o rio e os seus barcos foram os únicos meios disponíveis para transportar o vinho desde a zona de produção até ao entreposto exportador, no Porto e Gaia. ©CASA ALVÃO, COLECÇÃO DO INSTITUTO DOS VINHOS DO DOURO E DO PORTO, I.P.
    Carregação de pipas de vinho no Alto Douro. Durante séculos, o rio e os seus barcos foram os únicos meios disponíveis para transportar o vinho desde a zona de produção até ao entreposto exportador, no Porto e Gaia. ©CASA ALVÃO, COLECÇÃO DO INSTITUTO DOS VINHOS DO DOURO E DO PORTO, I.P. DR
  • As juntas de bois eram não apenas fundamentais para levar as pipas até aos rabelos, como para os puxar com cordas desde a margem nas viagens de regresso ao Douro quando a corrente se mostrava mais forte. ©CASA ALVÃO, COLECÇÃO DO INSTITUTO DOS VINHOS DO DOURO E DO PORTO, I.P.
    As juntas de bois eram não apenas fundamentais para levar as pipas até aos rabelos, como para os puxar com cordas desde a margem nas viagens de regresso ao Douro quando a corrente se mostrava mais forte. ©CASA ALVÃO, COLECÇÃO DO INSTITUTO DOS VINHOS DO DOURO E DO PORTO, I.P. DR
  • Na sua época áurea, chegaram a circular 2500 rabelos no Douro. ©CASA ALVÃO, COLECÇÃO DO INSTITUTO DOS VINHOS DO DOURO E DO PORTO, I.P.
    Na sua época áurea, chegaram a circular 2500 rabelos no Douro. ©CASA ALVÃO, COLECÇÃO DO INSTITUTO DOS VINHOS DO DOURO E DO PORTO, I.P. DR

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O Douro dos rabelos que acabou há meio século

A faina fluvial que o rio hoje conhece é, porém, tão diferente como o seu próprio retrato. As pontes que a partir do século XIX o foram cruzando (e que em casos como o de Mosteirô lhe deram um adorno de especial beleza) acabaram com as barcas de passagem entre as duas margens e as barragens foram capazes de domar um rio que, no auge das chuvas torrenciais, se revelava incontrolável e produzia devastações nas povoações ribeirinhas — supõe-se que a maior dessas devastações foi a da cheia de 1739. As albufeiras das barragens tanto evitaram essas torrentes descontroladas como a seca que permitia a travessia do seu leito a vau durante a estiagem. O Douro de hoje é diferente, está domesticado, exibe-se mais pela permanente placidez da sua toalha de água de que pelos seus humores de Inverno e do Verão.

É, aliás, neste cenário mais idílico do que tumultuoso que sobrevivem os rabelos, destinados a consolidar a iconografia de um vinho cuja construção tem capítulos de epopeia. Nas regatas de São João dão um ar da sua graça no cortejo até à Afurada e volta, o seu desenho inspira os barcos turísticos que hoje inundam o leito terminal do Douro, mas o que lhes dá especial sentido é a memória que alimentam dessa era que acabou há 50 anos. A era em que, como escreveu Alves Redol, “em cada pedra há uma lenda ou o nome de um arrais que naufragou” pertence ao passado. Mas, também por isso, a silhueta dos rabelos nas margens de Gaia ou do Porto existe para recordar que o vinho do Porto é o que é também à custa das suas viagens e dos seus dramas.

 

Navegação na actualidade: O mundo cabe todo no rio
(por Andreia Marques Pereira)

Da Foz, no Porto, até Barca d’Alva são 210 quilómetros de distância, rio Douro acima. É a Via Navegável do Douro (VND), é a extensão do Douro português — depois de Barca d’Alva e do encontro com o rio Águeda, o Douro é Duero. Os barcos rabelo, que durante séculos foram o meio de transporte mais constante nestas águas, transportando os barris do vinho do Porto entre as quintas durienses e as caves de Gaia, já não conheceram o rio “domado” pelas barragens construídas a partir da década de 1970 — em 1964 terá acontecido a última viagem comercial.

Já não há rabelos a subir e descer o rio com o afã de outros tempos (embora ainda existam 24 a navegar regularmente, com fins turísticos), mas a navegação na VND nunca esteve tão pujante: 550 mil passageiros em 2013 — um aumento de 100 mil relativamente a 2012 e mais do que o dobro do verificado em 2010 —, segundo estatísticas da Delegação do Norte e Douro do Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos (IPTM). Estes passageiros dividem-se, segundo classificação do IPTM, por cruzeiros de mais de um dia (embarcações hotel), cruzeiros de um dia (utilizam eclusagens), cruzeiros na mesma albufeira (de duração variável, entre meia e uma hora, normalmente), navegação de recreio e navegação comercial,

À boleia do boom turístico da região, notavelmente do Porto, tem aumentado o número de operadores no rio Douro, que neste momento conta com 35 empresas registadas que totalizam 86 embarcações, para uma capacidade de 6124 passageiros. E não será à toa que os cruzeiros na mesma albufeira concentrem 64% dos passageiros (cerca de 350 mil), com irrefutável prevalência no troço Mar-Crestuma que corresponde aos itinerários dos chamados cruzeiros entre pontes. No entanto, não são de negligenciar os 200 mil passageiros dos outros segmentos, sendo de destacar os excepcionais crescimentos dos cruzeiros nocturnos (75%) e, talvez mais relevante, dos barcos-hotel (40%) para 11 embarcações), embora constituam um valor quase residual no contexto geral — correspondem a 19.052 e 39.352 passageiros, respectivamente. No entanto, são os cruzeiros de um dia que ocupam o segundo lugar das preferências dos turistas (28%), sendo que os trajectos dominantes são os Porto-Régua-Porto, Régua-Pinhão-Régua e Régua-Barca d’Alva-Régua. A Régua, porta de entrada no Alto Douro Vinhateiro, surge como a porta giratória e, portanto, é natural que o seu cais seja o que apresente o maior movimento de passageiros — em termos de movimentos de embarcações é Gaia que lidera.

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