Fugas - Viagens

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Nos caminhos da antiga Rota do Chá

Ao pousar a mochila na recepção, travo conhecimento com aquela que será a minha companhia nas noites de repouso das caminhadas, no pátio, com uma taça de vinho de arroz à mão para atalhar o frio: o Shangri-la, um mastim tibetano pachorrento, de cabeça enorme, dentes robustos, olhar meigo e, pelos vistos, avesso à solidão.

A Praça Sideng: um teatro secular com um palco exterior, para entretenimento da gente das caravanas, casario de madeira e adobe a toda a volta e ruelas como a South Tibet Alley — assim, mesmo, em inglês, na placa bilingue. Na face norte, no templo Xingjiao, convivem elementos do budismo, do taoísmo e do confucionismo. Todo este conjunto que assenta pé na praça foi objecto de restauro recente, com a cooperação do World Monuments Fund e do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique.

A praça está quase sempre vazia de gente: um ou outro passante, uma velhinha de blusa, colete e avental em tons de azul, à porta de uma loja, dois ou três turistas sentados em redor de uma mesa de madeira e de umas garrafas de Dali, a popular cerveja local. A Shaxi não chegou ainda a emergente vertigem do turismo interno.

Em benefício da tranquilidade joga o facto de não haver, para já, muito que fazer na aldeia e nos arrabaldes, a não ser mergulhar na modorra da vida rural, vadiar pelo vale e ir recenseando, com vagar sábio e ocioso, os signos que fazem da aldeia o entreposto da antiga Cha Ma Dao em melhor estado de conservação. Apesar das potencialidades de atracção de viajantes, o turismo é uma actividade residual: mais de 70% do rendimento da população provém da agricultura.

Uma volta pelos campos cultivados, nas margens do Heihui, oferece-nos a visão contrastante de uma China rural, tão distante das cidades em modernização acelerada: azáfamas agrícolas em sistema de minifúndio, pouco ou nada mecanizadas, o roncar anacrónico das velhas camionetas de motor à vista, sobreviventes dos tempos da

Revolução e do infausto Grande Salto em Frente, mulheres com cestos às costas, bonés e túnicas à Mao, cerimónias animistas na velha ponte de pedra, calcorreada por burricos e cavalos a caminho da feira semanal, guardadoras de patos pastoreando os bichos, ao fim da tarde, na berma do rio.

Num dos modestos restaurantes situados à boca da praça servem-me uma das deliciosas sopas do Yunnan, uma mistura substanciosa de noodles com generosa abundância de legumes, carne, cogumelos, ovos esfiados e uma junção capciosa de especiarias, incluindo o imprescindível gengibre.

Parece que há mil e uma maneiras de confeccionar a guoqiao mixian, como pude confirmar em muitos lugares da província — as variações resultam, sobretudo, das diferentes combinações de ingredientes e da mão do cozinheiro.

Regresso amiúde ao tasco, pelos sabores e pelo cantar da água no ribeirinho — e porque a guoqiao mixian se come a qualquer hora do dia, do amanhecer à ceia. Numa das tardes em que me demoro a tomar um chá, depois de uma “peregrinação” ao Templo da Compaixão Feminina, numa aldeia próxima, dois jovens sentados numa mesa ao lado dão uma ajuda na comunicação com a cozinheira.

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