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Nos caminhos da antiga Rota do Chá

As primeiras horas da manhã são as mais propícias à descoberta desta pequena Veneza — ou talvez se devesse dizer Amesterdão, por causa das estreitas alamedas sombreadas que acompanham muitos dos canais.

Sobre os canais há dezenas de pontes de pedra, tão ricamente esculpidas, algumas, como as janelas, portas e estruturas de madeira das casas, com os seus motivos decorativos da cultura Naxi. Na cidade velha, a arquitectura dos edifícios reflecte a obsessão harmónica do fengshui, consubstanciada num padrão que replica por toda a parte o mesmo plano e os mesmos belos e serenos pátios povoados de jardins e plantas ornamentais.

Nas zonas mais frequentadas da cidade velha reina uma atmosfera difícil de catalogar, entre a veneração do passado — que a exemplar conservação arquitectónica e a evocação das tradições culturais naxi, antes banidas ou censuradas pela Revolução Cultural, traduzem — e o kitsch da quinquilharia das lojas de artesanato e dos enfeites delirantes dos restaurantes mais amados pelas hordas de forasteiros. Tudo temperado por um eufórico espírito consumista, o mesmo que achamos agora noutras cidades chinesas, em tudo diverso do que era costume na China austera e sisuda dos tempos maoístas.

Uma actividade que parece colher crescente popularidade entre os turistas chineses foi a que vi em duas ou três casas de fotografia de Lijiang — estabelecimentos que combinam a arte fotográfica com serviços de maquilhagem e caracterização, incluindo um vistoso guarda-roupa.

A inovação é curiosíssima: uma espécie de criação de personagens que permite aos visitantes levarem para casa, em registo fotográfico, não apenas o cenário em bruto, e a sua anacrónica figuração nele, mas também a respectiva encenação num quadro fantástico, como actores vestidos “à época”.

Ao fim da manhã já impera uma ebulição turística que monopoliza todo o espaço disponível nas ruas e lojas da cidade velha. É o momento de me retirar para um dos restaurantes populares de mesas e banquinhos baixos, em madeira, num bairro mais sossegado, para os lados da Wuyi Jie. No último dia escolho o meu preferido, onde a versão local do nasi goreng (arroz frito com legumes e molho de soja) é especialmente saborosa. Numa das paredes da sala-cozinha foram pintados signos da escrita dongba, uma escrita pictográfica usada pela cultura naxi desde o século VII. Foi o senhor Feng, um homem magro e discreto, marido da senhora Mei, a cozinheira, quem os pintou.

A senhora Mei serve-me um chá mal acabo de me sentar. Parece que adivinhou que esta é minha última refeição em Lijiang: passados uns minutos vem oferecer-me alguns pequenos presentes, um deles é um pedaço de tela com figurinhas dongba, um pássaro em pleno voo, uma flor murcha, uma casa vermelha. Tenta explicar-me o significado, mas em vão. Percebo apenas que a pintura do fragmento é obra do senhor Feng e que aquele gesto amável tem a assinatura de ambos.

A cultura naxi aos pés da montanha do Dragão de Jade

Das povoações tocadas pela Rota do Chá, na China, nenhuma conserva o esplendor arquitectónico de Lijiang. A cidade foi classificada pela UNESCO como Património Mundial em 1997, quando da reconstrução que se seguiu ao sismo de 1996. Nos critérios da classificação foram relevados valores como a autenticidade, a qualidade arquitectónica e a síntese cultural de tradições que a cultura naxi representa.

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