Fugas - Viagens

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De canoa entre as brumas do lago Bunyonyi

Reza a lenda que um grupo de 20 homens estava a produzir cerveja omuramba, a cerveja local feita de sorghum, quando uma velha mulher passou pela ilha Bucuranuka (Upside Down Island) e pediu um gole de cerveja. Os homens recusaram de forma rude (não era suposto as mulheres beberem) e disseram-lhe para ela “desaparecer” da sua vista. Ela então pediu a alguém que a transportasse para a margem do lago, coisa que os homens concordaram porque queriam ver-se livres dela. Encarregaram um jovem de o fazer e, mal ele a deixou em terra firme, a ilha virou-se ao contrário afogando todos os homens que a tinham maltratado, com excepção do jovem - e de uma galinha.

Não faltam lendas do género na região do lago Bunyonyi e, aparentemente, boa parte delas incluem uma velha mulher com poderes sobrenaturais que vira ilhas do avesso ou cria ventos tão fortes e ondas tão grandes capazes de arrasar todo o lago. Sem ninguém no horizonte, as águas continuavam tão tranquilas como sempre as vi. Não tardei muito a chegar a terra firme para um divinal almoço num dos resorts do lago, forma ideal de terminar quase três dias de descoberta e esforço físico, à medida que o dia se foi tornando adulto e os múltiplos tons de cinza deram lugar a um sol inclemente.

Na minha cabeça, tudo continuava ainda pincelado de cinzento. Jamais esquecerei os momentos que passei sentado numa canoa obwato no meio de uma obra-prima pintada pela natureza nesta manhã de brumas no lago Bunyonyi. Nem a simpatia de gente como Mama Bena, Eric ou Tom. Mais do que o esforço para vencer a colina Karembe, é isso que fica de três intensos dias passados no Bunyonyi.

 

Guia prático

Como ir

Não há voos directos entre Portugal e o Uganda ou Ruanda, mas várias companhias aéreas, incluindo a KLM, a British Airways, a Emirates e a Turkish Airlines voam de Lisboa para Entebbe (aeroporto que serve Kampala) ou Kigali, por preços mínimos actualmente a rondar os 700€-800€, ida e volta. A partir de Kampala, há vários autocarros que fazem a ligação a Kabale, a principal cidade nas proximidades do lago. Partem normalmente entre as 7h e as 8h, com preços a rondar os 25.000 shillings ugandeses (cerca de 7€, oito horas de viagem), e há várias companhias a operar a rota; recomendamos a Post Bus, que sai do edifício principal dos correios ugandeses, na Kampala Rd (convém comprar bilhete na véspera, ou chegar por volta das 6h30).

Tendo por objectivo combinar o Ruanda com uma visita à região sudoeste do Uganda, aterrar em Kigali é uma opção a considerar. A partir de Kigali, no Ruanda, a viagem de autocarro para Kabale é mais rápida mas implica atravessar a fronteira terrestre em Katuna e pagar dois vistos (Uganda e Ruanda – sendo que este último não pode ser obtido no aeroporto). Uma vez em Kabale, o lago Bunyonyi é facilmente acessível usando táxis ou boda bodas (motorizadas).

Para fazer as actividades referidas na reportagem, usei os serviços da Edirisa (“janela”, na língua local – www.edirisa.org): os canoe trek de dois ou três dias custam 140 dólares (cerca de 112€) e 185 dólares (cerca de 148€) por pessoa, respectivamente, para grupos de cinco ou mais pessoas com todas as refeições e dormida em tendas. Os preços aumentam para grupos de menor dimensão.

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