Fugas - Viagens

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O sorriso de Buda

O Templo da Cidade Dourada

Luang Prabang cabe na palma da mão. Implantada sobre uma península rodeada por dois rios, o Mekong e o Nam Khan, a parte da cidade que foi classificada pela UNESCO resume-se a uma área de pouco mais de um quilómetro de extensão e uns duzentos ou trezentos metros de largura, delimitada pelos dois rios.

A rua principal tem o nome do penúltimo rei do Laos, Sisavang Vong, interlocutor dos franceses na constituição do vasto protectorado que Paris começou a formar na Indochina a partir de finais do século XIX. O seu herdeiro, o príncipe Savang Vatthana, deu continuidade à cooperação entre potência colonial e país colonizado e pôde manter-se no poder até 1975, quando o Partido Popular Revolucionário do Laos, após uma guerra civil, pôs fim à monarquia, instaurou um regime marxista-leninista e mudou definitivamente a capital política para Vienciana. O palácio real, a meio da Sisavang Vong, foi nessa altura transformado em museu (o actual Museu do Palácio Real) e é exactamente lá que podemos ver o famoso Buda dourado que deu nome à cidade.

A rua Sisavang Vong é um autêntico compêndio de alfabetização dos viajantes em assuntos histórico-culturais. Enquanto caminhamos pela única artéria de Luang Prabang com movimento que mereça o substantivo, cruzando-nos com pequenos grupos de monges, camponeses, carroças, tuk-tuks azuis, bicicletas e turistas, vamos absorvendo uma súmula dos pergaminhos da capital do antigo reino de Lan Xang: os templos antigos de uma cidade onde Buda, em viagem, terá um dia repousado, os centenários rituais do budismo theravada, a mestiçagem do casario, em madeira e integrando elementos locais e arquitectura colonial, os bares onde as marcas vinícolas francesas competem com a Beerlao, a cerveja nacional, a pastelaria gaulesa, o animado mercado nocturno e as geometrias coloridas dos têxteis do Norte do Laos.

Quase a chegar ao ponto de confluência das águas do Mekong e do Nam Khan, do lado esquerdo da Sisavang Vong, encontramos um dos templos mais antigos de Luang Prabang . Há mais de trinta templos na cidade e arredores, mas se acaso não houvesse tempo senão para uma única visita, o eleito seria o Wat Xieng Thong, um edifício religioso datado do século XVI. O complexo ocupa um quarteirão e do outro lado há uma larga escadaria que desce até ao Mekong e que atesta também a sua importância — era por aí que entravam na cidade diplomatas e mensageiros.

O Templo da Cidade Dourada, que era também o espaço usado para a coroação dos monarcas locais, é um edifício bem representativo da arquitectura religiosa de Luang Prabang e do Laos, com muitos elementos característicos, como o telhado curvo em camadas sobrepostas voando com a elegância de uma pena quase até ao chão, um prodigioso trabalho de gravura e escultura e uma exuberante talha dourada, tudo em irrepreensível estado de conservação (num dos templos da cidade, o Wat Xieng Muang, há uma escola onde os monges estudam as artes da conservação). Painéis de uma árvore da vida, na parede posterior do templo, e de cenas religiosas e profanas, em mosaicos, numa das capelas próximas, são belíssimos exemplos da celebrada estética budista de Luang Prabang.

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