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De comboio por um Tejo de castelos

A fortaleza, que se ergue no alto de um ilhote em pleno Tejo, é hoje um dos monumentos mais emblemáticos da época da Reconquista cristã e um dos que melhor evoca a presença dos Templários no país, testemunho da arquitectura característica da ordem: plantas quadrangulares, muralhas elevadas rematadas por merlões e seteiras, o conjunto dominado por uma torre de menagem.

É lá no cimo que nos demoramos, mergulhados na paisagem. O espelho de água desenha um ziguezague no vale verde, tão adormecido que nascem pequenas línguas de areia ao centro e pelas margens. Um riacho pedregoso sai do Tejo só para dar forma à ilha de Almourol, unindo-se ao leito principal logo em seguida. Atrás surge a linha de comboio, onde regressaríamos pouco depois, no apeadeiro de Tancos.

O primeiro troço do então denominado Caminho de Ferro da Beira Baixa foi inaugurado em 1891, com o objectivo final de ligar o Entroncamento à Guarda (actualmente termina na Covilhã, com a secção posterior encerrada), percorrendo o centro do país, primeiro paralelo ao Tejo, depois subindo pelo interior ao largo da serra da Estrela. E é quando ele se despede das margens do rio mais extenso da Península Ibérica que nos apeamos também, não sem antes nos debatermos por um lugar à janela para a melhor perspectiva das imponentes Portas de Ródão. Duas paredes escarpadas e rochosas emergem do verde dominante para entrincheirar o leito do rio, que ali se encolhe como o tempo num relógio de areia.

Já é noite caída e por isso não subimos ao Castelo de Ródão antes de nos fazermos à estrada até Marvão. Continuassem os longos dias veraneantes e teríamos galgado os dois quilómetros rumo à fortificação, para uma perspectiva altaneira daqueles abismo naturais que apertam o Tejo, quem sabe avistar um dos grifos que habita aqui a maior colónia desta espécie em Portugal, enquanto percorremos os vestígios do castelo do rei Wamba e ouvimos as suas lendas.

Conta o povo que a mulher do visigodo se terá apaixonado pelo rei mouro que habitava na outra margem e este, para a resgatar, tentou construir um túnel por debaixo do rio, mas acabou por surgir acima das águas. O rei Wamba descobria assim a finalidade do buraco e decidiu oferecer a mulher ao inimigo, atando-a à pedra de uma mó e rolando-a encosta abaixo. Segundo a lenda, a vegetação não voltou a nascer no sítio por onde a pedra passou e o túnel ainda hoje lá está. Mitos que podem ser testados na próxima edição do passeio, cujo percurso foi ligeiramente alterado, terminando desta vez aqui a rota casteleira, antes do regresso a Lisboa.

Sem o sol do nosso lado, é debaixo de um manto de estrelas que vamos balançando o corpo entre curvas cada vez mais apertadas à medida que enveredamos pela serra de São Mamede. “Quando virem uma luz amarela à vossa direita, é o castelo de Marvão”, indica Humberto, dono de uma empresa de aluguer de automóveis antigos que faz de nosso motorista este fim-de-semana. Dobramos a estrada e ela surge cor de azeite lá em cima. Chegámos.

Uma estação centenária

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