Fugas - Viagens

  • FOTOS: HANS LOZZA

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O parque que recusa a mão do homem

Laboratório a céu aberto

- Tantas vezes, em criança, ouvi histórias que falavam de uma grande colónia de veados vermelhos no parque.

Hans Lozza vive o parque no passado, no presente (é o actual director de Comunicação e Relações Públicas) e não perscruta grandes alterações no futuro.

- Já nessa altura era proibida a caça. Nos dias de hoje, alguns caçadores tentam a sua sorte nas zonas limítrofes ao parque mas, na maior parte das vezes, são surpreendidos pelos guardas-florestais.

Um pouco como sucede nos Estados Unidos, os parques suíços não foram concebidos para atrair um turismo de massas. Eles foram idealizados – e neste caso concreto o Parque Nacional Suíço - para permanecer no seu estado bruto e, simultaneamente, belo. O rápido crescimento do turismo alpino e a abertura, um pouco desenfreada, de lugares com panorâmicas soberbas que se avistam do cume de algumas das montanhas, a maior parte delas acessível em transporte ferroviário ou de teleférico, têm vindo a contribuir para exacerbar, em grande escala, o argumento utilizado, desde a génese, pelos fundadores do parque para a prossecução do seu ideal de reserva natural.

Por esses dias, Paul Sarasin, outro dos criadores, como já foi escrito, alimentava um sonho que a II Guerra Mundial não lhe permitiu materializar: aquele que foi, na década de 1920, presidente da prestigiada Federal National Park Commission e o mentor da ideia de “Weltnaturschutz” - a conservação global da natureza – via o Parque Nacional Suíço como um modelo, a referência para todos os países até se chegar a uma rede mundial de reservas.

Sem qualquer surpresa, o parque, visitado por mais de 150 mil curiosos por ano, 80% deles suíços, 10% alemães, 5% italianos, percentagem igual à totalidade dos outros países, o parque – íamos a escrever – é um lugar mais atraente para quem parte em busca do conhecimento científico do que para o turista normal. E essa vocação, simples para quem se identifica com a simplicidade, levou mesmo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) a classificar o Parque Nacional Suíço não como um “parque nacional”, correspondente à categoria II, mas como uma “rígida reserva natural”, no nível Ia, o que atesta bem do trabalho (ou falta dele) que tem vindo a ser realizado.

- Não nos passa pela cabeça alterar a filosofia de total protecção para o parque, como sempre a definimos – e única nos Alpes.

Hans Lozza permanece fiel aos ideais dos seus antepassados e, graças a tantos exemplos como este, o Parque Nacional Suíço (onde as fogueiras e o campismo estão proibidos mas também os cães, mesmo quando conduzidos pela trela, e as multas chegam aos 500 francos suíços) integra a lista da UNESCO de reservas da biosfera desde 1979, um exemplo de respeito pela natureza que cada vez atrai mais visitantes. A maior parte do terreno (51%) revela-se improdutivo, 28% é ocupado pela área florestal (aproxima-se perigosamente dos 100% a conífera) e os restantes 21% por pradarias, protegidas pelos Alpes e onde se encontra a maior parte das plantas que crescem nesta região montanhosa, um total de quase 700 espécies (gradualmente a flora vai regressando à sua forma primitiva).

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