A cada passo que damos, seja pelas cidadelas turísticas, seja pelas praias, seja pelos altos e baixos das montanhas ou pela ruelas de Las Palmas, alguém nos lembra: “Gran Canaria es un pequeño continente”, “Gran Canaria es un continente en miniatura”. Ouvimo-lo, lêmo-lo, está nos slogans do Turismo, nas bocas do povo, no orgulho dos locais, no refrão da nossa simpática e carismática guia turística, Suzy, que fala um português orgulhoso da sua ascendência lusa.
E o certo é que num par de dias — feitos para aproveitar aquilo por que as Canárias são mais célebres, o sol e mar —, não conseguiremos penetrar nos veios todos com que se cose este vulcânico “continente em miniatura”, quase metade dele Reserva Mundial da Biosfera pela UNESCO.
Mas havemos de vislumbrar atracções várias, divertirmo-nos com idiossincrasias e turistas (e nós mesmos), mergulhar e passear com prazer, ir do mar ao deserto, gastar as poupanças em compras (a sublinhar: não há IVA neste reduto, o imposto é reduzido e os preços em geral apetecíveis), até deixarmo-nos seduzir pela preguiça luxuosa dos resorts tudo-incluído e pela diversidade da movida nocturna com intervalo para nos deliciarmos com as ruelas e gastronomia da capital Las Palmas.
Acima de tudo, enquanto Portugal já começava a recear tremores do frio, andámos por aqui com um sorriso que poderia acompanhar algum cartaz com outro dos slogans deste “turistíssimo” arquipélago: “19ºC de média no Inverno, 23ºC no Verão” (melhor ainda: não varia mais que uns 4 graus, tal é a estabilidade).
Entre uns mergulhos (“Por favor, deixem-me ficar neste mar e não me chateiem”, dizia alguém...) e enquanto admiramos a ilha vista de dentro desta água morninha, acreditamos plenamente no que já nos tinham prometido: “Eterna Primavera, dias de sol, céus azuis”. Se é ou não “o melhor clima do mundo”, como lemos agora numa das brochuras que aliciam mais turistas (e que é até o nome e morada de um site oficial do Turismo canário), não sabemos dizer ao certo. Deixem-me só dar mais um mergulho e já penso nisso melhor.
A capital do turismo
Quando se fala das Canárias, não faltam atracções nem ilhas para chamar os turistas (2014 deverá ter fechado com 13 milhões de visitantes, com nórdicos, britânicos, alemães e espanhóis a dominarem; já os portugueses andam pelo 1%). Da mais sóbria Lanzarote (que em Portugal se tornou também célebre por ser lar escolhido por José Saramago) às diversões de Fuerteventura ou Tenerife. Completam o arquipélago as ilhas d’ El Hierro, La Palma e La Gomera. E, claro, a Gran Canaria, a ilha redonda a que vamos chamar casa nos próximos dias e onde, sem sairmos do espaço europeu e com os pés em Espanha, estamos, na verdade, a mais de 1250 quilómetros da Península Ibérica e a apenas uns 200 da costa marroquina.
Embora a ilha seja senhora de muitos mais predicados (lembremo-nos do factor “continente en miniatura”), assim que aterramos e a caminho do nosso lar-resort (e noutros vaivéns dos dias seguintes), aquilo que nos parece primeiro abalroar, mais que as paisagens desérticas ou o oceano, é o contínuo de núcleos turísticos, hotelaria, campos de golfe, resmas de turistas.