Fugas - Viagens

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Luleå (Like), Gammelstad (Like)

- Não há problema. Paga amanhã - ainda ouvi, para finalizar o diálogo, do outro lado.

O cheiro a carne grelhada era cada vez mais forte e o fumo insinuava-se por entre as árvores.

- De certeza que não se quer juntar a nós?

Nenhum deles nascera na Suécia; um chegara da Bósnia-Herzegovina, dois do Irão e um outro de Marrocos. Todos residiam em Estocolmo e estavam em Luleå, durante o fim-de-semana, para vender telemóveis, uma promoção qualquer, e à frente deles tinham alguém que, em viagem, teimava em manter-se incontactável, completamente desfasado no tempo e no espaço.

Digitei o código, subi umas escadas e abri a porta do dormitório onde, em dois dos cantos, se amontoavam mochilas e roupas, sapatos e outros acessórios, objectos de alguém que, seguramente, não acabara de chegar. Um era sueco, o outro era francês e ambos passavam grande parte do tempo com os olhos plantados nos seus computadores. O primeiro estava há quatro semanas no albergue de juventude, o segundo há três — em comum o facto de procurarem desesperadamente um apartamento para alugar em Luleå.

O efeito Facebook

Imagine três salas gigantes, cada uma delas medindo 28.000 m2 e, se sente dificuldade em perceber a dimensão, permita que se pinte no seu imaginário pouco vocacionado para dígitos que, no total (84.000 m2), poderiam abrigar 11 campos de futebol.

- Este é o início de uma nova era – afirmou Karl Petersen, comissário municipal de Luleå.

Após um tempo de pesquisas, em diferentes lugares da Europa e da Suécia, o Facebook, que no próximo dia 4 de Fevereiro celebra 10 anos de existência, decidiu construir, nesta cidade da Lapónia, o Luleå Data Center, o primeiro centro de processamento de dados da rede social fora dos Estados Unidos da América, um investimento na ordem dos 700 milhões de euros.

- A instalação do servidor é um marco na história de Luleå e assinala o facto de, a partir de agora, termos entrado definitivamente no mundo da indústria digital – admitiu ainda o comissário quando a decisão foi anunciada.

O Facebook optou por Luleå por ter encontrado nesta zona a conjuntura mais favorável em diferentes componentes: hidroeléctrica (a proximidade de algumas estações ao longo do rio Lule que produzem o dobro da barragem Hoover, na fronteira entre o Nevada e o Arizona), custos relativamente baixos da energia, banda larga de elevada qualidade, habilitações e competência em informação e tecnologia e as condições atmosféricas — Luleå está situada a menos de 100 quilómetros a sul do Círculo Polar Ártico e as baixas temperaturas são fundamentais para manter o servidor frio, poupando dinheiro e energia (sem esquecer o menor impacto ambiental), tal como já havia feito, em 2009, mas na Finlândia, o Google.

De um momento para o outro, Luleå passou a estar nas bocas do mundo — e os utilizadores europeus, em maior número do que nos EUA, passaram a dispor de ligações mais rápidas —, e a atrair empresas internacionais especializadas que prestam apoio ao Facebook, bem como outras que, ligadas à mesma área, não param de crescer no conceituado Luleå Science Park. Como resultado desta corrida, a Universidade de Tecnologia registou em 2012 um novo máximo de candidaturas e viu duplicar o número de inscrições para os cursos de engenharia informática.

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