Fugas - Viagens

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Luleå (Like), Gammelstad (Like)

Se é difícil encontrar apartamentos disponíveis na cidade, também os hotéis registam taxas de ocupação invulgares, não apenas motivadas pela elevada presença de homens de negócio mas, igualmente, embora em menor escala, pelo incremento do turismo numa urbe que se orgulha de ocupar o segundo lugar na lista (em toda a Suécia) das que mais horas de sol desfrutam, apenas superada por Visby, a majestosa capital da Gotland, a maior ilha do Mar Báltico. Durante os meses de Inverno, Luleå mostra a sua face mais tristonha mas quando o Verão chega, trazendo com ele os seus raios solares, a cidade transforma-se e oferece múltiplas atracções aos locais e aos turistas, despertando de uma espécie de hibernação em que se deixa mergulhar. Nessa altura, as longas e escuras noites não constituem mais do que uma memória que rapidamente se deseja esquecer; sente-se o pulso da cidade, as festas e os festivais tornam a atmosfera mágica, tendo como pano de fundo, junto ao mar, um pôr do sol tardio. O Musikens Makt (O poder da música), que ocorre em Agosto, é hoje o mais mediático dos eventos mas outros há, como o Folk Musician’s Rally, que são celebrados desde o início da década de 1970.

Era uma vez Luleå

Todos aqueles que revelam o mínimo de curiosidade pela vida dos sami, tão próximos e tão distantes de Luleå, sentir-se-ão mais identificados com esta minoria que se divide por quatro países (a Noruega, a Finlândia e a Rússia, além da Suécia) se dedicarem uma ínfima parte do seu tempo a uma visita ao Norrbotten Museum (na Storgatan, 2), para percorrem com um olhar demorado um conjunto de fotos, instrumentos e dioramas que retratam um estilo de vida tradicional — e os mais novos ficarão fascinados com a visão de uma tenda nómada e a recriação de um quarto de brinquedos do século XIX. Luleå, em tempos um centro metalúrgico, é hoje, mais do que nunca, uma cidade de contrastes, capaz de proporcionar aventura e, ao mesmo tempo, tranquilidade, com uma atmosfera internacional e, em simultâneo, a meia dúzia de passos, uma beleza natural que praticamente desconhece a intervenção humana.

Sentado na elegante Casa da Cultura, com uma ampla janela enquadrando o céu azul, ora mergulho o olhar num livro que me ajuda a compreender a história de Luleå, ora escuto o silêncio tão apaziguador, ora fito a rua, àquela hora quase deserta de transeuntes. A silhueta de uma figura desperta-me a atenção. Não, estou a mentir, foi a dimensão da objectiva da câmara que me levou a depositar os olhos mas o homem, com o seu cabelo ruivo, apontando na minha direcção, parecia-me familiar. Não mais me concentrei, abandonei a leitura e saí para as artérias da cidade do futuro para viver o presente mas com grande vontade de, por algumas horas, regressar ao passado, sem telemóvel e sem Facebook.

Like, pensei, e avancei — ou ia recuar, assim ia meditando na curta viagem de autocarro, desde Luleå, conduzido por uma mulher, num espaço onde, não havendo mais ninguém, quase podia ouvir a nossa respiração, não fosse o ruído produzido pelo motor.

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