Fugas - Viagens

Luleå (Like), Gammelstad (Like)

Por Sousa Ribeiro

O Facebook celebra 11 anos a 4 de Fevereiro e nós fomos de passeio a Luleå, na Lapónia sueca. Aqui foi instalado o primeiro centro de processamento de dados da rede fora dos EUA. E também aqui o Facebook, de várias maneiras, mudou para sempre a vida da região.

- Na verdade, não tenho uma ligação pessoal com Luleå, vivo no interior da Lapónia, a mais de 300 quilómetros de distância e, para ser sincera, acho a cidade extremamente ventosa e com pessoas pouco — ou mesmo nada — simpáticas. É daqueles lugares que não me despertam qualquer sentimento de afinidade ou calor humano.

Elisabet Angberg fixa os olhos nos meus, sem pestanejar, como quem espera uma reacção negativa a um comentário depreciativo sobre a cidade onde, pelo menos por agora, não corre um fio de vento e o sol sobe radioso no céu tingido com farrapos de nuvens. Deixo o centro para trás e o autocarro conduz-me através de uma paisagem imensamente verde e arborizada.

- Sente-se aqui à frente para eu não me esquecer de lhe indicar a paragem em que deve sair.

Correspondo ao pedido do motorista e entrego-me à quietude do cenário emoldurado pela janela mas logo depois fico à escuta, sem nada entender, num momento em que o autocarro se detém. Uma senhora, já com muitos anos nas pernas, fala com o condutor e, dois minutos depois, não sem dificuldade, desce do veículo de marca sueca.

- Ela estava a queixar-se de alguns motoristas, que não a respeitam e se mostram antipáticos. Como se deve ter apercebido, ela é cega.

Fascinado pelo verde que se tornava cada vez mais verde, não me apercebi mas logo evoquei a sentença de Elisabet Angberg.

- Falo castelhano, não fluentemente, e nos últimos tempos não tenho praticado. Vivi e trabalhei durante três anos em Gran Canaria, na organização de passeios de bicicletas todo-o-terreno.

De sorriso fácil, conduzindo lentamente, ora apontava para a casa onde vivia, baixa, toda em madeira e rodeada por profusa vegetação, ora me falava da Etiópia, do café, da injera (pão típico da Etiópia), da mulher etíope com quem se casou.

- É aqui. Se desejar regressar ao centro, qualquer autocarro tem como destino Luleå. Mas também pode ir a pé, é um passeio bonito. Luleå é uma cidade pequena — e insignificante se comparada com Adis Abeba. E se tiver algum problema, sabe onde moro.

Trocámos um aperto de mão e eu ainda acenei no momento em que o autocarro reiniciava a sua marcha lenta. Ergui os olhos e avistei um conjunto de pinheiros de tronco esguio rasgado por um trilho que resolvi seguir até dar de frente com um prédio pintado numa tonalidade ocre. Supostamente, era neste edifício, transformado em albergue de juventude, que pensava ficar alojado durante dois dias. Mas a porta estava fechada e de nada me servia o número de telefone bem visível que deveria contactar — não viajava com telemóvel. No exterior, um grupo de jovens, bem animado, colocava pedaços de carne numa grelha sobre as brasas. O cheiro inundava o ar até agora puro.

- É servido?

Amavelmente, declinei o convite e expus a minha situação. Um deles prontificou-se a ajudar-me e, em poucos segundos, passou-me o telemóvel. Do outro lado, o recepcionista, atencioso e há já algumas horas em casa, deu-me as coordenadas, o respectivo código para abrir a porta principal e o local onde se encontrava um envelope contendo a chave do quarto.

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