Não só por este contexto paisagístico mas pelas adições patrimoniais, que lhe emprestam um rosto senhorial e vetusto, assinalando o período em que foi vila e sede de concelho extinto em meados do século XIX. O pelourinho é a herança mais simbólica desses tempos, mas não é a única: a igreja matriz setecentista, o fontanário granítico de 1755 são outras obras públicas significativas, mas o que sobressai mesmo na aldeia é a concentração inusitada de casas brasonadas e solares. Uma viagem no tempo com matizes românticas e de uma elegância severa em paisagem “protegida”.
Porto, Jardim das Virtudes
É provavelmente o parque municipal mais central do Porto, mas também um grande desconhecido da cidade. Mais conhecido por jardim, este parque está encaixado num vale que rasga Miragaia desde as traseiras do Palácio da Justiça, seguindo o antigo leito do rio Frio, agora completamente encanado. O jardim, que era a antiga Companhia Hortícola Portuense, desenvolve-se em socalcos relvados, cada qual uma varanda sobre o rio e os telhados de Miragaia, rodeados de escarpas nas quais se empoleira o casario — e o Passeio das Virtudes, a varanda das varandas, mesmo ao lado da Cooperativa Árvore.
Não é um jardim pequeno, mas o “isolamento” e a disposição em escadaria fazem com que pareça um recanto esquecido, um segredo bem guardado, entre japoneiras, arbustos e a maior Ginkgo biloba do país (35 metros e dois séculos de vida) dispostas nas plataformas seguras por muros de granito por vezes salpicados de musgos e vegetação. O setecentista Chafariz das Virtudes, as fontes, as estátuas, os bancos e varandins que se espalham pelo dédalo de caminhos que cruzam a topografia indisciplinada dão-lhe uma aura romântica — do Romantismo e dos casais enamorados que aqui encontram sempre um porto de abrigo com solidão q.b..
Mata Nacional do Buçaco
Não há outro modo de dizê-lo: é um sonho romântico, a Mata Nacional do Buçaco. O arvoredo é mágico, nas cúpulas que escapam de sequóias, acácias, abetos, cedros, tílias, pinheiros e até fetos gigantes (no Vale dos Fetos) a compor um diálogo de verdes, atravessado de caminhos recônditos que se precipitam em escadarias de pedra e se detêm em ermidas, capelas e refúgios de monges que aqui se recolheram do ruído do mundo.
Uma estranha aliança de sagrados: o católico que chegou com os Carmelitas Descalços no século XVII; o telúrico que vibra a cada passo que se dá nesta floresta revestida de misticismos. Não apenas quando o nevoeiro cobre o monte (chega aos 549 metros de altitude), não só quando se percorre a Via Sacra de três quilómetros, vinte passos e estações marcadas com capelas, nem, sequer, quando damos de cara com o devaneio neo-manuelino de D. Fernando II (agora transformado em hotel).
O sortilégio do Buçaco é a união de todos estes elementos que parecem até obliterar os dias de sangrentas lutas que aqui tiveram lugar durante as invasões napoleónicas. Mas, de alguma maneira, tudo está entranhado neste chão, já faz parte do seu ADN e, mesmo que de forma improvável, tudo está em serena simbiose neste mar (verde) de tranquilidade.