Sintra
Não era necessário que D. Fernando II tivesse construído o Palácio da Pena para Sintra ser irredutivelmente romântica — a natureza foi suficientemente pródiga — mas não há dúvidas de que este fica bem como a jóia da coroa da vila que tem fascinado viajantes há séculos. O “glorioso Éden” de Byron é um glorioso paraíso terreno, onde o verde encapsula um casario colorido que margina o dédalo de ruas estreitas, becos e escadarias que fazem o centro e acaricia palácios e quintas que se espalham pela serra por detrás de muros altos e gradeamentos.
Sintra esconde jardins luxuriantes de árvores, plantas e flores de espécies incontáveis, lagos e fontes (e ribeiros inesperados que brotam caprichosos denunciando a natureza aquática da serra); mistérios esotéricos em entornos mágicos de poços, torres, grutas e labirintos; memórias de reis e rainhas, seus amores e desamores; miradouros que vão de Lisboa até ao mar, seguindo o Tejo, lendas de mouras encantadas e seus castelos. Do Palácio da Pena ao Palácio da Vila, passando pelo Castelo dos Mouros — este é um caldo de matizes que fazem da vila a eterna romântica.
Portinho da Arrábida
A fama de ser uma das mais bonitas praias do país ninguém lha tira, o proveito é que pode escapar-nos se vamos ao Portinho da Arrábida no pico do Verão, quando as multidões engolem o areal e a minúscula aldeia se transforma em parque de estacionamento caótico. Mas como resistir à baía que se recorta na serra da Arrábida, uma meia-lua de areia branca a separar o verde de terra com o verde-azulado ou azul-esverdeado do mar? A ocidente da praia fica a aldeia, que pode ser uma das portas de entrada para o areal e mais parece uma pequena colónia de férias.
O dramatismo da paisagem em redor esbate-se em parte quando visto de baixo — mas para aí chegar é a serra da Arrábida que se atravessa, em estradas de montanha que miram abismos quase hipnotizantes sempre acompanhados pelo mar. A natureza é pródiga nestas paragens que até são de Parque Natural. A prodigalidade revela-se tanto em terra, com o verde a ganhar altura à medida que baixamos e com pegadas místicas a assombrar-nos o caminho, como no mar, onde um parque marinho guarda uma biodiversidade única na Europa. A beleza ora dramática ora tranquila é inescapável.
Alentejo, Monsaraz
É uma viagem ao passado a olhar de frente o presente: o presente é o Alqueva, a barragem que inundou um canto do Alentejo, o passado é Monsaraz, a vila medieval, conquistada aos mouros em 1167 por Geraldo Sem Pavor.
Devidamente empoleirada no topo de um monte com vista para o “grande lago”, Monsaraz, envolta em muralhas, é um dos poucos miradouros sobre este numa região de planuras infindáveis. O charme antigo é preservado nas ruas e ruelas de xisto, marginadas por casario irrepreensivelmente caiado. Uma vila branca, portanto, para lá da sua protecção secular que à noite se acende esparsamente com luzes amarelas que parecem vindas de outros tempos. Pouca iluminação que combina bem com quem quer ver estrelas — e estamos em plena reserva Dark Sky, onde o céu guarda mistérios para serem descobertos a dois. E no Alqueva, que inventou novos recantos, passeios de barco desvendam ilhotas minúsculas e minúsculas baías, aldeias ribeirinhas — e sempre, por todo o lado, a doce paisagem alentejana.