Coimbra, Quinta das Lágrimas
Foi Paço da Rainha Santa, mas se ganhou lugar na história foi por ter sido cenário dos amores do seu neto D. Pedro e de uma dama galega, D. Inês de Castro. Ambos protagonizaram a maior (e mais dramática) história de amor de Portugal, que, tal como os “saudosos campos do Mondego” nunca ficou enxuto do seus formosos olhos. E se parafraseamos Camões é porque dele nos chegou a mais sentida narrativa da história que a agora chamada Quinta das Lágrimas viu desenrolar, quando era uma coutada real a dois passos do Convento de Santa Clara.
Não resta muito desse tempo – a não ser que queiramos acreditar que a Fonte das Lágrimas se formou com as lágrimas de Inês e que os vestígios vermelhos das rochas são resquícios do seu sangue e não algas. Na verdade, a lenda e o real não fazem muita diferença quando se percorrem os jardins do agora hotel de charme: da Fonte das Lágrimas à dos Amores, com transposição de porta ogival e janela do século XIV, podemos imaginar o idílio medieval que havia de durar pouco. Por estes dias, as memórias são omnipresentes, nos jardins plenos de plantas exóticas, entre arvoredos densos atravessados por inesperados bosquetes de bambus, que se abrem subitamente em relvados onde anfiteatros se instalam como uma espécie de land art. Entre o passado quase mítico e o presente, a Quinta das Lágrimas é um ícone do amor em Portugal: é o seu paraíso e o seu purgatório.
Tapada de Mafra
Diz-se “floresta encantada” e não vamos contrariar. Afinal, a Tapada Nacional de Mafra, desdobrada em vales e planaltos, tem todos os ingredientes para que a magia se revele — a natureza em vegetação luxuriante que desenha caminhos que parecem túneis esculpidos, a fauna variada que parece saída de livros de contos (veados, gamos, javalis, lobos, águias, falcões), o arvoredo (carvalhos, sobreiros) em densas manchas onde quase poderíamos ver duendes a passear.
Com origem barroca e por decreto-real — foi o parque adjacente ao Palácio-Convento de Mafra, zona de lazer e de caça para a família real —, a tapada não escapou aos ventos do romantismo que em Portugal teve D. Fernando II como principal cultor, o que só ajudou a manter o cenário “selvagem”. Uma visita à tapada é promessa de surpresas, seja num simples passeio a dois ou embarcando em alguma das actividades aqui promovidas, como o baptismo equestre ou passeios de charretes — para destacar as que oferecem mais possibilidades românticas. Sem esquecer o chá da 5, que por estes dias de frio será mais aconselhável do que um piquenique (que, sublinhe-se, nunca sai de moda no que a romantismo diz respeito).
Lisboa, Miradouro da Senhora do Monte
Qualquer hora é boa para ir ao miradouro da Senhora do Monte ou não fosse qualquer hora boa para ver a tão celebrada luz de Lisboa, mas não são poucos os que dizem que daqui se vê o pôr do sol mais bonito da cidade. Sem ortodoxias, ficamo-nos por um dos mais bonitos pores do sol da capital, desfrutado desde um dos menos frequentados miradouros de uma cidade pródiga neles, ou não estivesse ela própria assente em sete colinas. Estamos na Graça, bem no topo, o que faz da Senhora do Monte um dos miradouros mais altos da cidade. Na prática isto significa uma vista panorâmica da cidade — que um painel de azulejos ajuda a decompor: o castelo de São Jorge não necessita de apresentação, tão-pouco o Tejo, que vemos do mar da Palha e depois a passar a ponte 25 de Abril; as Avenidas Novas e o parque de Monsanto, e mais perto a baixa pombalina e até as ruínas do convento do Carmo. Com a capela de nossa Senhora do Monte como presença tutelar, abrigado por arvoredo, este é um local recolhido com a bênção de Lisboa.