O actual futuro não chega
O outro vislumbre do passado acontece quando atravessamos o Dubai Creek, o braço de água do Golfo Pérsico que entra pelo emirado dentro, numa das embarcações tradicionais, os “táxis aquáticos” aqui chamados abra. Sentamo-nos na plataforma de madeira, ao lado dos outros habitantes locais que utilizam este meio de transporte, e, acompanhados pelas gaivotas e pela luz dourada do pôr do sol, atravessamos do bairro mais antigo da cidade, Bur Dubai, para Deira, onde ficam os souks das especiarias e do ouro.
A dinastia dos Al Maktoum, que ainda hoje governa o emirado, foi determinante para a história de sucesso que este vive. Os Al Maktoum chegaram, vindos de Abu Dhabi, em 1833, e governaram sob protectorado britânico, transformando o Dubai primeiro num porto livre de impostos e depois num negociante de ouro (que importava e exportava), garantindo-lhe assim a prosperidade até à descoberta do petróleo em 1966.
No início da década de 1970 chegou a independência e formam-se os Emirados Árabes Unidos, sendo Abu Dhabi o “irmão” mais rico — segundo o nosso guia, a diferença é entre uma produção de 2,8 milhões de barris de petróleo por dia contra 75 mil no Dubai. Daí a aposta deste no turismo desde há cerca de 15 anos. E com sucesso: dos 15 milhões de turistas que os EAU receberam em 2014, 11 milhões vieram visitar o Dubai.
E este não poupa esforços para agradar, dos hotéis mais extravagantes (no Atlantis, por exemplo, pode-se ficar numa suite debaixo de água e dormir como se estivéssemos num oceanário, com os peixes a nadar à nossa frente) aos maiores centros comerciais (o Dubai Mall, onde fica o Burj Khalifa, tem 1200 lojas).
Não admira, por isso, que haja quem chame a este enorme e luxuoso parque de diversões no meio do deserto Duvegas, comparando-o com Las Vegas — aliás, a Dubai Fountain, o espectáculo de luz e som com fontes de água a dançar no meio do deserto que acontece todos os dias em frente ao Dubai Mall e aos pés do Burj Khalifa faz lembrar o do hotel Bellagio em Las Vegas, mas é, claro, muito maior e “visível do espaço, sendo o ponto mais brilhante no Médio Oriente, e possivelmente em todo o mundo.”
Bem mais conservador, Abu Dhabi tem seguido uma estratégia diferente, apostando mais no turismo cultural, com a construção de um Distrito Cultural, que inclui nada mais nada menos do que o Louvre Abu Dhabi (projecto de Jean Nouvel, abertura em 2015) e Guggenheim Abu Dhabi (projecto de Frank Gehry, com abertura prevista para 2017).
No Dubai tudo muda a uma velocidade estonteante. Mesmo quem aqui vive há cinco ou seis anos diz que já não reconhece a cidade. E tudo vai continuar a mudar, porque o actual futuro já não é suficiente para o emirado, que sonha já com o próximo futuro: a Expo 2020, e tudo o que ela trará. Por todo o lado há guindastes e estaleiros de construção. Em frente da janela do nosso quarto no hotel Marriot Marquis — que é também “o hotel mais alto do mundo” — está a nascer outra torre. Na piscina ouve-se o ruído das construções à nossa volta, como se ouvíssemos a cidade a crescer.