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No Dubai come-se o mundo inteiro

Por Alexandra Prado Coelho

O emirado quer posicionar-se também como um destino gastronómico. Está aqui o mundo e, dos hotéis de luxo aos restaurantes populares de rua, no Dubai prova-se o melhor do que existe.
Se perguntarmos a algum habitante do Dubai onde podemos encontrar um restaurante de comida emirati, o mais provável é que nos indiquem um ou dois locais, e mesmo estes abriram há relativamente pouco tempo. Num país que era um deserto à beira do mar, a alimentação era composta sobretudo por peixe, arroz (importado), tâmaras e doces feitos com leite de camelo ou cabra.

Mas desde que se deu o boom do emirado, as cozinhas do mundo, e sobretudo as da Índia, Paquistão e Médio Oriente, instalaram-se aqui. Hoje, no Dubai come-se o mundo inteiro à distância de meia dúzia de ruas. Nos restaurantes dos hotéis a qualidade é excelente, mas vale também muito a pena andar pelas ruas — e a melhor introdução é, sem dúvida, a que nos é dada pela Frying Pan Adventures. Comecemos então por aí.

A Índia num prato pela mão de Farida

Paramos no meio de uma rua do Meena Bazar, o bairro indiano no centro do Dubai antigo, segurando cada um numa ponta do enorme roti, o pão espalmado acabado de fazer por uns homens de barbas compridas e lenços enrolados à cabeça, numa pequena padaria mesmo ao nosso lado. Os padeiros, que continuam a amassar outros pães e a pô-los no forno enquanto nos lançam olhares divertidos, são afegãos, nós somos um grupo de jornalistas portugueses e suecos, e a nossa guia, Farida, é indiana, nascida no Dubai, e está neste momento a mostrar-nos como devemos espalhar a manteiga clarificada (o ghee indiano) sobre o pão, deitando-lhe depois açúcar de cana por cima, enrolando tudo num tubo e comendo. “Este é o sabor da minha infância”, diz, sorridente. “A minha mãe fazia-nos isto.”

Esta é uma das muitas paragens do percurso gastronómico indiano Little India on a Plate, organizado pela Frying Pan Adventures, empresa criada há dois anos por Farida Ahmed e pela sua irmã Arva para dar a conhecer um outro lado do Dubai. Durante quatro horas e meia esquecemos os arranha-céus espelhados e as extravagâncias dos sheiks das arábias e mergulhamos no Dubai indiano, percorrendo as ruas do Meena Bazar e olhando os saris nas montras. Os indianos representam, juntamente com os paquistaneses, perto de 70% da população do emirado, muitos deles, como os pais de Farida e Arva, chegaram já na década de 70 do século passado, e as filhas nasceram já aqui nos anos 80. No entanto, a maioria dos turistas nem sabe que existe o Meena Bazar. É isso que as duas irmãs estão a tentar mudar.

“Quando ainda não existiam os Emirados Árabes Unidos e os ingleses chamavam a esta região a Trucial Coast, muitos indianos mudaram-se para cá e instalaram-se em redor do Creek [o braço de água do Golfo Pérsico que entra pela terra dentro]. Aqui era o centro da cidade, e tornou-se o lar longe do lar para muitos indianos”, conta.

O entusiasmo de Farida é contagiante. Pequena, magra, tem uma energia inesgotável, enquanto nos leva pelas ruas, contando histórias que misturam a cultura e as tradições indianas com factos da vida dos indianos no Dubai, e fazendo-nos entrar em restaurantes e provar coisas que de outra forma nunca provaríamos — simplesmente porque não sabíamos que existiam.

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