Pressa de chegar a 2020
Nos últimos anos, a estratégia do Dubai tem sido desenhada com a sua companhia aérea, a Emirates. E é precisamente para o quartel-general da Emirates que nos dirigimos num início de tarde ameno. O local está em obras, como toda a cidade. É que a operação Emirates tem crescido tanto que em breve vai ser preciso mudar para um espaço maior. O interior parece uma gigantesca linha de montagem — os tabuleiros com louça suja vindos dos aviões que constantemente aterram no aeroporto ali ao lado (que acaba de destronar Heathrow como o maior aeroporto do mundo em número de passageiros, com 70 milhões a passar por ele em 2014) não param de chegar.
Cerca de 550 dos 3500 funcionários do catering da Emirates ocupam-se desta parte, a separação da louça, as lavagens, talheres para um lado, pratos para outro, lixo para o lixo, pauzinhos num sítio diferente porque só são usados nos voos para a Ásia. Daqui partem aviões para 147 destinos, com a maior parte das partidas entre as 7h e as 10h da manhã e as chegadas às primeiras horas da madrugada — e para estes aviões são preparadas diariamente 160 mil refeições, com características diferentes conforme o destino. E este é não apenas o aeroporto com mais passageiros, é também o mais mediático, desde que o National Geographic Channel lançou a série documental Ultimate Airport Dubai, que vai já na segunda temporada.
Pelo que vamos descobrindo, só a actividade no catering seria suficiente para preencher toda uma série televisiva. Paramos na parte dos vinhos. Para cada destino há, para primeira classe e executiva, uma carta de vinhos um pouco diferente. Se o voo for para Portugal, por exemplo, a carta inclui um vinho tinto português (e, para qualquer lugar do mundo, a primeira classe da Emirates oferece sempre vinho do Porto). Em 2020, a Emirates espera estar a transportar 70 milhões de passageiros por todo o mundo — e muitos deles para o Dubai, que aproveita o facto de ser um hub de grande dimensão para oferecer condições especiais para que os passageiros em trânsito façam uma escala de um ou dois dias no emirado.
E, entretanto, as coisas vão continuar a mudar. Quem visitar o Dubai daqui a seis meses ou daqui a um ano já verá um país diferente, com pressa de chegar a 2020. A Expo vai acontecer entre 20 de Outubro de 2020 e 10 de Abril de 2021 e são esperados 25 milhões de visitantes — note-se que o emirado tem uma população de dois milhões de habitantes, sendo os emiratis apenas entre 10 e 15%, enquanto os indianos e paquistaneses constituem quase 70%.
Acaba de ser dada luz verde para um ambicioso projecto, a Cidade de Aladino — três torres em forma da lâmpada de Aladino, suspensas sobre as águas e ligadas por pontes inspiradas nas formas de dragões e cobras, fechadas, com ar condicionado (o calor no Verão no Golfo é uma das grandes preocupações) e passadeiras rolantes.
Mas, ao mesmo tempo que continua a construir fantasias futuristas, o Dubai começa também a olhar mais atentamente para a sua herança. Mesmo ao lado da futura Cidade de Aladino fica a zona antiga, o Dubai Creek, com os seus barcos tradicionais, e o objectivo dos responsáveis do emirado é que seja reconhecida pela UNESCO como Património da Humanidade (a decisão é esperada em 2017).