Fugas - Viagens

  • Maria João Gala
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Continuação: página 3 de 6

“As coisas vão acabando, não há nada que dure para sempre”

“Quase todas as famílias têm gado”, diz-nos o senhor Amado, “porque nesta aldeia precisa-se de viver e entreter com algo”. “Vem algum subsidiozinho, mas não se vive... E temos monte como pouca gente tem.” Ele próprio, que já passou tudo aos filhos, ficou com o gado — e na escuridão da loja da sua casa, a “da capela”, granito com ambições ancestrais solarengas onde serve “uns cafezinhos para as primas” (e somos nós), guarda seis cabritinhos. “Não é pelo lucro, é que estou habituado.” Quando pode, continua a levar o gado nas saídas, quando não pode paga ao senhor Abel. “Dirigir [o gado] é fácil, mas o frio, o vento... É preciso ir bem coberto para o monte, o monte não é fácil.”

 

“Um mundo grande, caraças”

A dona Dina sabe-o, traz várias camisolas, um corta-vento, gorro, galochas. “Agora temos de esperar [pelo gado]. É bom, cansa andar sempre. Uma vez trouxe roupa para costurar, não me deixaram fazer nada. Quando me sentei lá estavam eles do outro lado.” E, na verdade, não dura muito o descanso. E acaba a estrada para a dona Dina. “Se calhar tenho de ir lá acima. E as minhas botas escorregam muito.” Vai lá acima e continuará pelos montes “manchados”. “Fazem queimadas para depois chover e rebentar a erva. Mas são burros, agora não há nada.” Há cores pardas, castanhos e algum verde seco dos fetos, silvas muitas. Em algumas semanas tudo rebentará de cor, com a urze e as giestas a anunciarem a chegada da Primavera. E nessa altura Aveloso começa a sair da semi-hibernação: em final de Abril iniciam-se os trabalhos mais pesados nos campos, por agora é quase só manutenção e tomar conta dos animais: o rebanho, os cabritinhos e cordeiros que ficam nas cortes, as vacas (arouquesas) que quase todos possuem. A rotina de Maria Isaura Ferreira, fora de casa, por estes dias resume-se a deitar as vacas nos terrenos e a puxar água. “No Verão é que nunca se anda de mais.” Há tempo até para pequenos assombros, de uma das “antigas”, como aqui se referem aos mais velhos, que vem de um lameiro com um ramo de árvore, um apenas, delgado, para a lareira: caminha lentamente a mirar a paisagem como se fosse a primeira vez, “isto é que é um mundo grande, caraças”.

E de onde está o seu olhar não chega sequer ao Douro (que é a fronteira norte de Cinfães — a sul é a serra de Montemuro), está fechado por montes salpicados de aldeias, onde ainda se fala de lobisomens e de bruxas, embora já não se acredite, nos primeiros pelo menos. Só já não se o faz à noite, quando as aldeias se reuniam numa das casas, as mulheres a fiar lã, os homens a jogar cartas e as histórias a avolumarem-se como uma edição do Fantasporto, brinca Emília Viana, que recorda as suas férias de infância, na mesma casa multicentenária que agora lhe pertence no Lugar da Ribalapa (Ferreiros de Tendais), na aldeia onde todos se tratavam por tios porque, descobriu mais tarde, eram mesmo todos família, a sua — agora, moram cinco pessoas aí. Sete quando ela e o marido estão na Casa da Geada, também alojamento de turismo rural, que faz parte do Turismo Rural do Douro, uma rede de casas de turismo rural e restaurantes que abrange, além de Cinfães, Baião e Marco de Canaveses. É através desta, e dos seus dinamizadores, os irmãos Ângelo e Teresa Montenegro, que chegamos aqui e que saímos a “pastorear” — é um dos vários programas com que tentam dinamizar a região.

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