As alterações no mapa aéreo açoriano representam um aumento de 40% na oferta de voos para Ponta Delgada em relação a 2014 (acréscimo que ascende a 74% se considerarmos apenas a época baixa) e uma diminuição dos preços de voo, que chegam agora a custar um terço do valor anteriormente praticado. Há novos hotéis a abrir este ano na ilha e pedidos de licenciamento de 1800 novas camas em todo o arquipélago, incluindo 21 hostels em São Miguel. Segundo a Associação da Hotelaria de Portugal, as reservas de hotéis feitas directamente pelos hóspedes para os próximos três meses aumentaram cerca de 20% em relação ao ano passado, antecipando um novo perfil de turista num arquipélago onde 95% dos visitantes chegava até agora a partir de agências de viagens ou de operadores turísticos.
A expectativa é muita, tão esperançosa quanto cautelosa, num ano de grandes mudanças na região autónoma: por um lado, a promessa de mais turismo com a liberalização das rotas aéreas, por outro, e simultaneamente, a apreensão motivada pelo fim das quotas leiteiras na Europa, depois de 30 anos em vigor (segunda a Lusa, os Açores produzem actualmente 30% do leite nacional, sendo que metade da economia da região autónoma assenta na agropecuária e, dentro dela, o leite pesa mais de 70%).
Lagoa aqui, baleia ali
Tínhamos acabado de aterrar e pouco depois já serpenteávamos os prados verdejantes rumo ao primeiro cartão-postal da ilha, que se o tempo meteorológico seguirá sempre do nosso lado, o do relógio correrá impiedosamente contra nós. Dobramos uma curva, subimos outra e, de repente, lá está ela, larga, aos nossos pés. Um ovo de água aqui, uma bola límpida acolá, a separá-las um fio de arcos de pedra, ao largo uma rodela de casas brancas. Estamos na Vista do Rei e a lagoa das Sete Cidades dorme lá em baixo, as lagoas Verde e Azul esquecidas das tonalidades que lhes deram nome, misturando cores de água, arvoredo, céu e nuvens, nem por isso menos belas, menos arrebatadoras. Um anel de escarpas frondosas separa-as do oceano, pintado num lampejo no horizonte, como se as desligasse da realidade, como se ali o tempo corresse diferente, apartado do mundo. Influências da geografia ou não, conta-nos Rui Amen, gestor de produto do Turismo dos Açores e nosso guia por estes dias, que há quem viva na freguesia lá em baixo e nunca tenha visto o mar. Talvez quem tenha aquele cenário à janela não precise de nada mais.
Nós, por outro lado, é para as ondas do Atlântico que vamos sacudir o corpo pouco depois, no encalço dos cetáceos açorianos. Ao longo do ano, mais de 20 espécies de baleias e golfinhos cruzam as águas do arquipélago, entre residentes e migratórias, correspondendo a um terço das espécies de cetáceos existentes em todo o mundo. As probabilidades apontam para que se aviste um máximo de três num passeio de barco, mas depois de largos minutos de um mar cor de prata infinitamente vazio começamos a acreditar que as nossas estão próximas de zero. Até que alguém grita “Estão ali, estão ali!” e o suspense que se vive a bordo rebenta numa excitação de correrias, sorrisos e centenas de fotografias.