Fugas - Viagens

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Havai, o paraíso turístico das brochuras

E quem não esteja disposto a casar-se ou a engrandecer a lua-de-mel pode sempre jogar golfe, cirandar de helicóptero pelos céus do arquipélago, fazer surf ou optar por uma outra qualquer actividade, como agora sói dizer-se, e tudo isto por um singelo pacote de quatro dias (hotel e transfer) por aproximadamente 550 euros.

Amiúde, há quem diga que o número de turistas japoneses já foi bem superior quando o Japão era a segunda economia mundial — posição que a China ocupa agora com toda a tranquilidade — e os senhores dos yen tinham outro poder de compra. Todavia, o que os dados oficiais demonstram (embora seja uma descida de 0,5% face ao ano precedente) é que o número de japoneses de visita ainda supera a população residente do Estado: 1,5 milhões em 2014 para uma população de 1,4. E, já agora, que o turismo chinês cresceu 29% graças ao milagre da multiplicação dos voos e dos senhores dos yuan. Mas os números estão longe de ser comparáveis: foram pouco mais de 161 mil os chineses intrigados com o tal jardim das delícias de que falam Brian e as colegas.

À imagem e semelhança dos três funcionários da agência, japoneses e chineses são uma espécie de Dupond & Dupont, ou de yen & yuan, sobretudo se forem descendentes de outros japoneses e chineses que emigraram há várias gerações para trabalhar no comércio, na agricultura ou na cana-de-açúcar. Não é, pois, de estranhar que os primeiros continuem a ser os principais turistas da ilha de O’Ahu e, muito em particular, de Waikiki e Honolulu, a capital da ilha e do Estado.

Por causa de Honolulu, o Havai, regra geral, confunde-se com O’Ahu, “o lugar do encontro”. É aqui que reside mais de metade da população. E como os guias de viagens apreciam os panegíricos, nomeiam-na como um cruzamento genético de Oriente e de Ocidente; de Boston ou Las Vegas e Manila, Singapura ou até Tóquio. Tudo misturado numa tela de Gauguin. É bem certo que há na miscelânea um descarado exagero. Mais pelas diferenças de dimensão e de opulência do que pela explosão de cores de Gauguin. A opulência havaiana é natural e pertence aos deuses que a criaram.

Com a sua silhueta de arranha-céus, a cidade até nem se distingue assim tanto de qualquer outra congénere dos EUA da mesma proporção: só que aqui, neste caso, o seu intrínseco melting pot foi construído com base nas várias gerações de polinésios, japoneses ou chineses. Mas a miscelânea, diga-se, também não prescindiu de europeus, muito particularmente de açorianos e de madeirenses. A eles, em Honolulu, se devem a Lisboa Street, a Concordia Street ou a Lusitana Street, mas não só. Desde o início do século XIX que os ilhéus portugueses procuraram as águas do Havai pela simples razão de que as baleias preferiram estas águas para parirem nos meses de Inverno.

Paulatinamente, como conta Ferreira Fernandes em Os Primos da América, os portugueses saltaram as amuradas, viraram as costas ao mar — no censo de 1900 eram três quartos da totalidade da população branca ­— e trinaram o machete, como se dizia na Madeira, a braguinha, como se dizia nos Açores, o cavaquinho, como se dizia no continente, ou como se diz no Havai o ukelele. Ninguém arriscaria que a “pulga saltitante”, a sua tradução em havaiano,  por causa da velocidade de execução do instrumento, se transformaria num ícone havaiano.

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