Fugas - Viagens

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Havai, o paraíso turístico das brochuras

A importância de Honolulu tornara-se evidente na sequência das viagens de exploração de James Cook, que aqui esteve pela primeira vez em 1778, ainda antes, 17 anos antes, de Kamehameha I a ter invadido no seu afã de unificar o arquipélago. O comércio mundial estabelecido a partir da baía de Honolulu focou Pearl Harbour como ponto estratégico para a amarração de navios, justificou a ocupação militar de uma área tão vasta, e o facto de o Exército, a Marinha, a Força Área e a guarda costeira norte-americanas ainda hoje serem o primeiro sustento económico do Estado, precedendo mesmo a própria indústria do turismo.

De resto, Pearl Harbour combina as duas indústrias de forma solene. O que sobra do USS Arizona, o principal mártir do ataque japonês do dia 7 de Dezembro de 1941 e que marcaria o decurso da II Grande Guerra, com a participação dos EUA no conflito mundial, foi transformado num memorial, ao qual se acede numa embarcação da Marinha para a respectiva homenagem silenciosa aos 3581 militares mortos nesse dia. Entre eles, a bordo do Pennsylvania, como não poderia deixar de ser, havia um marinheiro português, a quem se deve o nome de baptismo da travessia entre Fall River e Rhode Island: a ponte Braga.

Ao lado do fatídico USS Arizona, cujos destroços ainda largam óleo, que flutua à superfície como uma memória inapagável, repousa outro navio, igualmente emblemático. Foi a bordo deste preservado Missouri que Hiroito assinou a rendição. Previsivelmente, este não é um lugar de romagem para turistas japoneses, pelo menos num dia como o de hoje. Serão certamente poucos a integrar os cinco mil visitantes diários dispostos a recordar o “dia da infâmia”, como lhe chamaram as vítimas. E de Pearl Harbour a Hiroxima a distância foi curta e as consequências enormes. Tudo menos pacífico. Mas não deixa de ser irónico que os primeiros japoneses a pisar solo havaiano tenham sido os marinheiros que se salvaram de um naufrágio em 1806. E bem sabemos que um náufrago tem tendência a chamar paraíso à ilha que o acolhe.

Sonho e realidade

Já devem ter depreendido que o paraíso turístico do Havai tem o exigível: praias que excedem o postal; ondas que convidam ao surf nos locais do planeta mais desejados para este desporto; vulcões incessantes, mas populares (o Kilauea é o mais activo em todo o mundo); colares de flores ao pescoço (este sim, o lei, o principal estereótipo das ilhas), sobre camisas espampanantes, e que alguém só poderá usar em férias (até para se convencer a si próprio que está de férias); lojas caras e requintadas; criminalidade descontinuada (como contemporaneamente se diz); um memorial da II Grande Guerra; e uma cultura nativa e exótica (e da qual não existem memoriais).

Ou uma evocação dela: da cultura havaiana sobrou uma representação apressadamente coreografada da hula, uma dança para ensinar a turistas na borda de uma piscina ou de um jardim, no intervalo de um cocktail perfeito. E uma hospitalidade bem disposta, que dá pelo nome local de aloha, ou uma temperatura que, à excepção das montanhas, poucas ou nenhumas variações regista e que se situa sempre acima dos 20 graus.

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