Só que não é isso que um reformado como Bruce procura e exige. Depois de Washington e de muitos outros trabalhos para o Governo norte-americano, Bruce vive solitariamente, na companhia de um cão de pernas altas e, sempre que possível, no escuro da sua sala de cinema, a revisitar os clássicos de Hollywood, a comer peixe ou a cozinhar vegetais num wok. Não é para qualquer um, porque não é qualquer um que se reforma aos 40 anos com a possibilidade de comprar uma casa no Havai e viver sem fustigações. Todos nós sabemos que o paraíso não é para todos. E tudo isso é bíblico. Sentado num dos seus sofás brancos, na varanda oceânica de uma casa de madeira escura, no cimo de uma ladeira protegida pela montanha, estende o braço pelo Pacífico e diz:
— Daqui da varanda, quando a luminosidade o permite, vejo as silhuetas das costas do Peru ou e do Chile.
É por causa do cinema, do peixe, do wok, da varanda e de tudo o resto que apaixonou Martin Denny, Elvis Presley ou Edgar Rice Burroughs que Bruce, com a sua voz nasalada de Vick Vaporub, observa, convicto:
— O Havai é um paraíso. Não preciso de mais nada.
Bruce só precisava, confidencia, que um Republicano voltasse à Casa Branca e colocasse “os chineses no sítio” e o mundo nos eixos (do bem). E, se não for pedir muito, que estraçalhasse a carga fiscal. Nada de muito radical, portanto. Mais do mesmo.
Para acabar, que este texto já vai longo e Waikiki espera-me lá em baixo, Paul Theroux, um dos mais famosos residentes do Havai, perguntava-se em a Arte da Viagem se “há verdadeiros lugares felizes?”.
O escritor, filho de um canadiano francês e de uma italiana, que se divide entre Cape Cod, no Massachusetts, e o Havai, não se referia àqueles índices de desenvolvimento ou de felicidade que organizações não governamentais ou instituições internacionais divulgam frequentemente e que tanta discussão e interesse geram na imprensa.
Não, Theroux não estava a falar da Islândia, da Finlândia ou da Suíça, da Austrália ou do Butão. Falava sim dos momentos felizes que cada um de nós guarda para si, que geralmente são retrospectivos, como aquela tirada de William Burroughs num restaurante (não confundir com o outro Burroughs citado neste texto): “O que eu quero para jantar é um robalo pescado no lago Huron em 1927.” Inevitavelmente, o Havai figura entre os seus dez exemplos de lugares felizes, da sua lista do “não me importava de morrer aqui”.
“Talvez seja realmente o paraíso turístico das brochuras. Vivi mais tempo no Havai do que em qualquer outro lugar na minha vida, e muitas vezes, quando estou com uma pessoa de lá e está um dia bonito — o ar puro, a fragrância das flores, a rebentação, o arco-íris normal no céu — essa pessoa sorri e diz: ‘Que sorte vivermos no Havai’”.
É. Também acho.
A Fugas viajou a convite da Across
Guia prático
Como ir
A Fugas chegou ao Havai no âmbito da viagem de volta ao mundo que a Across organiza (quase) todos os anos. A de 2015, desenhada em parceria com a Hifly e com o broker aéreo EmptyLeg, tem partida de Lisboa a 1 de Agosto. A viagem, de 28 dias, inclui um avião A340 da Hifly, fretado exclusivamente para o percurso e paragem nos seguintes locais: Paris (França), Istambul (Turquia), Joanesburgo e Sun City (África do Sul), Malé (Maldivas), Hong Kong, Macau, Brisbane e Cairns (Austrália), São Francisco e Honolulu (Hawaí, Estados Unidos da América), Cusco e Machu Picchu e Lima (Peru), Buenos Aires (Argentina) e Colónia do Sacramento (Uruguai).