É o cenário elaborado de um paraíso perfeito, passe o pleonasmo, um perfeito estúdio de cinema de um filme de Presley e, simultaneamente, um sonho realizado à custa de tanto ter sido mitificado. Porque tanto existem aqui belas praias artificiais como a de Waikiki como praias de uma beleza estonteante como a de Waimea, com a sua baía em meia lua. Circundada por vegetação fulgurante como uma carapinha, a praia tem uma lotação pré-definida, para evitar aquela algazarra incómoda e terceiro-mundista que todos nós sobejamente detestamos. Ou não? Para os devidos efeitos, fiquem a saber que ambas existem. Ou leiam o parágrafo que se segue, escrito por alguém que passou aqui seis meses com a família.
“É possível que tudo isto seja real? Esta gente tão amável e aberta, as árvores de papaia e de abacate no jardim, três ou quatro arco-íris por dia, a vista das gargantas de Pu’u-Kukui envoltas em névoa e, na curva a seguir, o oceano infinito?”, perguntava-se, incrédulo, Florian Hanig, repórter da Geo, numa reportagem publicada recentemente naquela revista. O mantra é prosaico: como numa canção de Presley, living the dream.
O Havai é uma estância de turismo, com tudo o que isso implica no nosso imaginário e nas brochuras pousadas na mesa da sala de estar. E as estâncias são como utopias actualizadas e reais das estâncias de férias da distopia de Aldous Huxley em O Admirável Mundo Novo. Tudo é limpo, perfeito, bonito, caro, brilhante, ideal e muito menos idiota que um episódio do Barco do Amor. As revistas de viagens não se cansam de as referir como as “ilhas do paraíso” ou as “ilhas da felicidade”.
Mas o Havai é igualmente um lugar feliz para quem teve ou tem a oportunidade de o escolher. Após 25 livros do seu herói Tarzan, um epígono do Mogli de Kippling, Edgar Rice Burroughs enriqueceu o suficiente para viver no Havai e testemunhar o avassalador ataque japonês. Aos 66 anos, tornou-se, inclusive, correspondente de guerra e viajou então pelo Pacífico. Ele que dizia que escrevia melhor sobre locais que nunca vira do que acerca daqueles que conhecia tão bem.
Embora sem o Tarzan e o dinheiro de Edgar Rice Burroughs, foi o que Bruce Taylor fez. Tal como ele, todos os anos, escreve Annette Fuller, editora da revista Where to Retire, citada pelo USA Today, 700 mil americanos mudam de cidade a pensar na reforma. Nem toda a gente terá a idade de Bruce, que se reformou aos 40 anos e que passou por vários poisos antes de atracar aqui. Curiosamente, segundo o site Bankrate.com, os cinco estados menos aconselháveis para os reformados são Nova Iorque, Virgínia Ocidental, Alasca, Arkansas e... o Havai.
A análise, feita com base nas temperaturas, taxas de criminalidade, qualidade dos serviços de saúde e impostos, elogia o Dacota do Sul, Colorado, Utah, Dacota do Norte e Wyoming como os Estados com a melhor qualidade de vida. Mas a opção editorial também teve em conta a proximidade de outros reformados. A isso chama-se rede. E o Havai, para todos os efeitos, está sempre mais longe dos outros estados. Obama não poderia ter nascido noutro local.