Honestamente, diga lá onde é que, antes do almoço, consegue sentir-se no fundo do mar, quase a tocar uma tartaruga que nada mesmo em frente dos seus olhos, deleitar-se com um espectáculo de dança e acrobacia num cenário futuristas que muda a cada instante, ser agitado no ar como se estivesse na palma da mão do King Kong e deliciar-se com as imagens do Principezinho a saltitar de planeta em planeta, em busca da sua amiga rosa? Se não sabe a resposta, é porque nunca foi ao Futuroscope, em França.
A pouco mais de dez quilómetros de Poitiers, o Futuroscope é um parque de diversões sem princesas nem personagens tradicionais de livros de banda desenhada a passear pelos jardins bem tratados e cheios de esculturas divertidas. Para sermos sinceros, à primeira vista é bem possível que tenha alguma dificuldade em perceber que está num parque de diversões, já que grande parte das coisas que o vão deixar a rir, a gritar, a suar ou ligeiramente enjoado estão dentro de portas.
As vantagens disto, sobretudo num dia sem afluência excessiva, como aquele que passámos lá, é que caminhar no parque é fácil, porque ele até parece ligeiramente vazio (mentira, quando entramos nas salas elas estão sempre cheias de gente) e, por outro lado, o que nos vai acontecer quando entramos num edifício é mesmo, mesmo surpresa.
Com 27 anos de existência, o Futuroscope tem apostado na renovação da sua oferta, procurando ter diversões novas disponíveis a cada dois anos, para que ninguém tenha a desculpa de dizer que, depois de uma visita, não tem razões para regressar. Por isso, foi por uma novidade deste ano que começámos: o filme Deep Sea (Mar Profundo), projectado na cúpula de um dos IMAX do parque. Em 3D. O resultado é fabuloso. Quando as primeiras medusas surgem na imagem, parecem envolver-nos por todos os lados e à medida que criaturas mais ou menos assustadoras vão surgindo à nossa frente (há polvos gigantes e peixes esquisitos) quase imaginamos que alguém nos enfiou um fato de mergulho e nos enviou para o fundo do mar.
Saímos da sala com um sorriso no rosto e sem fazer a mínima ideia do que vem a seguir. Olhamos para os edifícios com ar moderno e linhas futuristas que nos rodeiam e pensamos o que mais poderá sair dali. Iremos passar o dia todo de sala de cinema em sala de cinema, a ver filmes em 3D? Um é bom, mas como será ao fim de três ou quatro?
Nada melhor para desfazer esta ideia do que irmos para um auditório onde nos vão apresentar um espectáculo ao vivo. Os Mistérios do Cubo são outra das novidades de 2015 e, quando nos sentamos, não fazemos mesmo ideia do que vai sair daquele cubo enorme e que parece feito de fogo que está no meio do palco.
A verdade é que, de lá de dentro, não sai nada. E, a determinada altura do espectáculo, o cubo até desaparece mesmo de cena, para reaparecer apenas no fim. O que acontece, e muito, são mudanças constantes no palco em que se movimentam os bailarinos acrobatas. O que parecia apenas um rectângulo estanque transforma-se, de um momento para o outro, para dar lugar a portas insuspeitas, frestas apenas suficientemente largas para deixarem passar uma figura humana bem esticada, aberturas no tecto de onde surgem longos lenços coloridos, nas quais a bailarina se pendura em diversas figuras acrobáticas. E o que parecia um chão duro tem, afinal, espaço para fofos trampolins, e nas paredes há suportes por onde se pode trepar. Tudo isto enquanto cenários variados são projectados em todas as superfícies, transformando o espaço onde os bailarinos se movimentam em mares revoltos ou calmos jardins floridos.