À nossa frente temos a casa onde nasceu, ao lado a capela onde foi sepultado, atrás a primeira sede do Instituto (actualmente um hotel). O Museo Casa Natal de Jovellanos tem uma ala dedicada ao pai do iluminismo gijonês (com alguns móveis originais e quadros), mas a maior parte do espaço integra parte da colecção artística municipal, incluindo telas de Evaristo Valle e Nicanor Piñole, dois dos pintores mais famosos da cidade (existem museus dedicados a cada um deles no centro). Ali próximo espreitamos ainda alguns vestígios da antiga muralha romana e da Torre del Reloj, reconstruída em 1989 e sede do arquivo municipal, antes de continuarmos a subida pelas callejuelas do casco antiguo.
Pelas paredes ainda sorriem cartazes das eleições municipais, realizadas no domingo anterior à nossa visita: a alcadesa do Foro aqui (que acabou por se manter no poder, em governo minoritário), ali os candidatos do PSOE, Ciudadanos ou Xixón Sí Puede (apoiado pelo Podemos). “Não sabemos o que vai acontecer”, ouviremos repetidamente de vozes preocupadas, outras resignadas, em discussões de café, de olhar colado às notícias no telemóvel ou no jornal regional, quando cruzamos posters na rua. “O partido mais votado elegeu oito concejales, o segundo conseguiu sete e o terceiro seis. Como se governa assim?”
Não reparamos em cartazes eleitorais na Plaza Periodista Arturo Arias, mas também ela é um sinal dos tempos, imagem de novas apostas. O amplo edifício à nossa frente já foi mosteiro de agostinianas recoletas (seguidoras de Santo Agostinho), depois fábrica de tabaco até 2002. Agora as obras de requalificação vão transformá-lo no futuro Museu de Gijón. A praça, dominada por aquela construção cor de areia, é por isso localmente conhecida por La Tabacalera ou El Campu les Monxes, mas também por El Llavaderu, por ali ter existido um tanque onde as mulheres iam lavar a roupa. Nos últimos anos, os bancos de jardim e a comprida escadaria em pedra transformaram-na em concorrido local de botellón. “Muitos grupos de jovens vinham para aqui beber sidra, mas há pouco tempo saiu uma lei a proibir e a polícia local foi especialmente rigorosa aqui, por isso essa tradição como que acabou”, conta Denis.
A sidra natural é um hino das Astúrias, inevitável a cada refeição, a cada saída à noite. “Más que una bebida, una forma de vida”, ouviremos várias vezes. É em Cimavilla – também conhecido por Barriu Altu (e com um espírito a lembrar o lisboeta) – que se encontra a maior concentração de sidrerías e, dizem-nos, é o melhor local para provar o líquido de maçã, de culín em culín. Mas nós, que não bebemos outra coisa desde que chegámos, terminaremos o dia no La Corrada, a comer um bocadillo e a tomar una cerveza artesana asturiana Caleya, entre música alta e posters da cena indie-rock de Gijón.
Mais perto do mar
Cimavilla era o antigo bairro de pescadores, subindo uma varanda natural sobre o porto de pesca. Ainda se vêem algumas casas tradicionais, de pedra, com o típico patim à entrada. Numa rua próximo da encosta, a pequena Capilla de La Soledá mantém-se sede da Confraria de Pescadores de Gijón, preservando a ligação histórica à profissão. Ali funcionou o gremio de mareantes, que organizava e financiava a captura de baleias. “Os atalayeros ficavam na zona mais alta do cerro a observar o mar e quando avistavam um destes cetáceos ateavam fogueiras para avisar os baleeiros”, recorda Denis. Na hora de repartir a carne do mamífero, “a tradição mandava que o ventre fosse para a capela, uma barbatana para o pescador que o matou e a outra repartida entre a comunidade de pescadores”. A última baleia foi capturada em 1722, mantendo-se a pesca de outras espécies.