Fugas - Viagens

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A pé pelas ruínas de ouro

O descanso sabe bem, mas só dura o tempo suficiente para almoçar e ganhar novas forças. Ainda há muito caminho pela frente e a vontade de recomeçar é inversamente proporcional ao tempo que se fica parado — quanto mais longo o descanso, menos apetece calcorrear os quilómetros que temos pela frente.

Mais “dez minutos”

Numa coisa Miro teve razão, o percurso da tarde é mais fácil do que o da manhã. Descemos pelo Canal de Peña Escribida, vestígio de um dos muitos que os romanos construíram para transportar a água, e regressamos à estrada com o miradouro de Orellán já bem visível. O calor é agora mais intenso, mas a vista da pedra cor-de-fogo, bordada pelo verde do bosque, merece que se aguente um pouco mais ao sol. Até porque o passo seguinte é mergulhar na frescura de uma galeria aberta pelos romanos no final da sua presença no local.

Com os capacetes obrigatórios a proteger as cabeças, percorremos a galeria principal, iluminada ao nível do chão, e que nos obriga, em alguns trechos, a caminhar curvados, para não batermos nos tectos baixos. Vemos os vários braços escavados na terra que saem deste túnel mais largo, mas o caminho não nos leva por algum deles. Paramos, antes, junto a uma abertura larga, abaixo do miradouro, com o azul vibrante do céu sobre as nossas cabeças e o verde das copas das árvores a esconderem o chão. É como uma boca escancarada para um mundo encantado.

Quando saímos, o calor atinge-nos como uma bofetada, mas temos o consolo de saber que dali a poucas centenas de metros o bosque está à nossa espera. O caminho entre as árvores é sempre a descer e percorrido devagar. Xavier, o segundo guia, que vem na cauda do grupo, avisa Miro que temos de parar, porque alguém se queixa com dores e é preciso esperar que recupere um pouco. Sentamo-nos, aproveitando para descansar à sombra. Aos poucos, o resto do grupo vai chegando e quando as últimas pessoas se aproximam já há quem se adiante, irrequieto, incapaz de estar mais tempo parado.

O primeiro dia de caminhada está quase a terminar. Deixamos para trás os carvalhos e os castanheiros e voltamos a caminhar entre o sol e a sombra, com as cerejas de um vermelho vivo a acrescentarem um pouco mais de cor à paisagem. Antes do regresso à aldeia, ainda nos aguarda a visita a duas grutas abertas nas montanhas, La Cuevona e La Encantada. Os avisos sobre a possibilidade de queda de pedras não afastam ninguém do interior fresco da primeira gruta, mas parte do grupo já não se aventura até à segunda, deixando-se ficar sentado à sombra.

É só mais um pouco até à aldeia, apesar de ninguém acreditar em Miro quando ele vai repetindo que só faltam “dez minutos”. Ainda assim, quando lá chegamos e depois de nos recompormos com bebidas frescas numa das esplanadas, são poucos os que optam por não caminhar durante quase uma hora para ir ver um dos lagos da zona. O guia não se mostrara muito entusiasmado, dizendo que o caminho era plano, sob o sol escaldante, e que não havia nada mais que ver além do lago, mas os resistentes do grupo dizem que querem ir.

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