Fugas - Viagens

Continuação: página 5 de 6

A pé pelas ruínas de ouro

Após um momento inteiramente dedicado ao velho ditado “O que não tem remédio, remediado está”, lá seguimos em frente, a pensar que aquilo não vai ser nada fácil, mas que tem de ser. Atravessamos um pequeno riacho, mergulhando os chapéus na água para refrescar as cabeças, e depois é sempre a subir.

É difícil, mas lá vamos. Devagar, procurando sempre o solo firme e não arriscando colocar um pé em alguma pedra solta, com a respiração a ouvir-se cada vez mais alta, vencemos metro a metro o tal caminho verde que (percebemos agora) é feito entre fetos frescos.

Já ultrapassamos mais de metade da subida, mas é aí que as coisas começam a complicar-se. Parece que é preciso parar a cada dez passos. Sentarmo-nos um pouco, beber água, deixar a respiração acalmar-se. Olhamos para trás e vemos a fila dos companheiros que se estende, monte abaixo, a subir lentamente. Repetimos o processo mais algumas vezes. O topo está mesmo ali, mas ao mesmo tempo parece que nunca mais chega. É só isto, dissera-nos o guia, isto é o difícil do dia, o obstáculo que temos de ultrapassar. O topo é já ali, está quase, afinal não, parece que sim, e pronto.

Sentamo-nos lá em cima, à sombra, a comer uma laranja doce e a retemperar forças. Ainda há muitas pessoas a subir, podemos descansar durante largos minutos. À nossa frente está um planalto absolutamente silencioso, rodeado por vales e montes. Quando retomamos a caminhada somos intimados a parar de novo. Há que esperar pelos que ainda tentam vencer a subida. Sem protecção do sol inclemente fingimos que paramos, enquanto damos passos curtos. Um sinal solitário no meio do planalto indica que falta cerca de hora e meia para Peñalba e que o nosso ponto de partida,  Montes, fica a outro tanto tempo de distância. Estamos a meio do caminho. Mas agora é a descer. Agora é chegar àquela aldeia arrumadinha a brilhar ao sol que se vê lá em baixo.

Quando finalmente retomamos o caminho, estamos entusiasmados. O pior já passou. Os joelhos até podiam tremer (não tremem), porque lá em baixo está a aldeia e o almoço e um local para nos sentarmos à sombra. À nossa frente está agora o Vale do Silêncio, uma enorme cicatriz entre montanhas, mesmo junto a Peñalba. A meio da descida voltamos à protecção de um bosque e o silêncio que nos rodeara é substituído pelo barulho refrescante das águas do rio Oza a correr lá em baixo. É junto ao rio que paramos, de novo, para descansar um pouco e nos reagruparmos. Por nós, já chegava, mas alguém diz que ainda falta meia hora para a aldeia. E depois Miro aponta para uma parede de rocha que se ergue ali ao pé e diz que, afinal, ainda vamos visitar só mais uma cueva.

Não estava a brincar. Subimos um pouco e viramos à direita, seguindo as indicações da Cueva de San Genadio. Voltamos a cruzar o rio, passando por uma ponte de madeira, onde estão sentadas algumas das pessoas que decidiram não nos acompanhar durante a manhã e que tinham feito a curta caminhada da aldeia até ali. Dizemos um “até já” e galgamos a subida que falta até à gruta aberta na rocha onde, diz a lenda, San Genadio se refugiou durante onze anos e onde, sentindo-se incapaz de se concentrar por causa do barulho das águas do rio, lhe ordenou que estas se calassem, dando assim origem ao nome Vale do Silêncio.

--%>