Fugas - Viagens

Continuação: página 4 de 6

A pé pelas ruínas de ouro

Alguns de nós optam por ficar na aldeia e vamos à procura dos companheiros que no início do dia preferiram não enfrentar a longa caminhada. Encontrámo-los bem-dispostos e descontraídos, acompanhados de cervejas e água fresca e encantados com a opção que tinham feito. Tinham caminhado apenas até às duas últimas grutas que visitáramos há pouco, aproveitando também a frescura do bosque de castanheiros, e passaram o resto do tempo a descansar à sombra. Não parece um mau plano, mas perto das 18h, quando regressamos a Ponferrada, espreitando ao longe, lá no cimo, a silhueta do Castelo de Cornatel, ninguém se diz arrependido pelo longo dia a andar. E as pernas não doem tanto assim. Nada que não se resolva com uma boa noite de sono.

Vale do Silêncio

No dia seguinte, as previsões meteorológicas são ainda mais preocupantes: a onda de calor continua, os termómetros vão chegar aos 44 graus em alguns pontos de Espanha. Para os nossos lados, prevêem-se temperaturas que podem variar entre os 38 e os 40 graus. O nosso destino é o Vale do Silêncio e os avisos do dia anterior voltam a repetir-se: muita água, protector solar e chapéu.

Partimos em dois mini-autocarros, porque — avisam-nos — o nosso transporte habitual não passa nas estradas que vamos percorrer até ao início da caminhada. Só quando nos fazemos à estrada é que percebemos o que é que isto quer dizer. Cruzamos aldeias em que a distância entre a varanda de uma casa e a parede da que está à sua frente não parece sequer suficiente para dar passagem ao minibus, quanto mais ao autocarro que nos levara de Portugal até Espanha. Levamos quase uma hora a percorrer os pouco mais de 20 quilómetros, feitos em grande parte em estreitas estradas de montanha, sem protecção lateral para o vazio — muitos dos passageiros só podem ir a rezar para que não apareça um veículo em sentido contrário. Há uma sensação de alívio quando chegamos a Montes de Valdueza, uma pequena aldeia perdida no meio do verde.

Íamos visitar o Mosteiro de San Pedro de Montes, fundado no século IX, mas o edifício, parcialmente em ruínas, está fechado por ser o dia de São Pedro (vá-se lá perceber a lógica). Miro avisa que a caminhada de hoje é mais difícil do que a do dia anterior, com subidas mais acentuadas, e consegue assustar parte do grupo. Dos 40, só cerca de 25 é que se arriscam a subir a montanha. Os outros vão enfrentar a descida vertiginosa da montanha a bordo do mini-autocarro e aguardar pelos caminhantes na aldeia de Peñalba de Santiago, “uma das mais bonitas de Espanha”, assegura o guia. Vamos lá ver no que isto dá.

Tal como no dia anterior, a caminhada arranca com uma subida entre árvores e o grupo separa-se rapidamente. Desta vez, Xavier ficou com os que decidiram não caminhar, pelo que Miro se atarefa entre as duas extremidades do grupo que sobe a montanha, garantindo que ninguém fica para trás.

À nossa frente erguem-se os Montes Aquilianos, que no Inverno ficam cobertos de neve, mas que estão agora pintados de verde. Apesar de um início de caminho feito a passo de caracol, o trilho estabiliza rapidamente e só começamos a duvidar da sensatez da decisão de fazer a caminhada quando Miro aponta para uma tira verde que sobe montanha acima e nos diz que é por ali que vamos. Como por ali? Subir aquilo? Subir aquilo TUDO?

--%>