Fugas - Viagens

A pé pelas ruínas de ouro

Por Patrícia Carvalho (texto e fotos)

Por Las Médulas, em Espanha, foram quase 30km em dois dias, entre paisagens encantadas, de pura natureza ou quase completamente moldadas pelo homem.

Há uma forma fácil de se deslumbrar com a paisagem de Las Médulas — vai de carro até muito perto do miradouro de Orellán e aí, descansadamente, debruçado sobre uma varanda, deixa-se ficar a olhar os montes laranja-dourados, com as suas formas estranhas, que são o testemunho da intervenção romana, há quase dois mil anos, naquela que foi considerada a maior mina de ouro a céu aberto do Império. E, depois, há a maneira difícil de o fazer — e quando estamos numa viagem organizada pela secção de Montanha do Académico Futebol Clube, já sabemos que esta será, de certeza, a que nos espera. Não nos desapontaram…

A base dos 40 participantes na viagem de quatro dias era Ponferrada, a quase 28 quilómetros da paisagem classificada pela UNESCO de Las Médulas. Na cidade da província espanhola de Leão as temperaturas estavam terrivelmente abafadas e dos aparelhos de rádio e dos televisores saíam constantemente as vozes dos locutores, alternando notícias da instabilidade grega com as da onda de calor que tinha invadido o país. Por causa disso (da onda de calor, não da instabilidade grega), Miro, o nosso guia de montanha, não parava de perguntar: “Toda a gente tem água? Protector solar? Água de sobra?”. Por ali, as temperaturas podiam aproximar-se dos 37 graus, o que seria um sinal para que se ficasse à sombra, sem fazer grandes esforços, mas nós tínhamos uma caminhada de cerca de quinze quilómetros programada, pelo que, com litros de água às costas, lá nos fizemos ao caminho.

A camioneta deixou-nos na aldeia de Las Médulas e um pequeno grupo fica por ali — desde o início que não tinham intenção de nos acompanhar no percurso de mais de três horas, com subidas e descidas. Seis pessoas ficam, por isso, para trás, com um mapa que lhes permitirá fazer, caso o desejem, um passeio mais curto, de pouco mais de uma hora, enquanto os outros se dirigem para a cancela que dá acesso à paisagem classificada como Património da Humanidade e onde um aviso indica que é proibido colher castanhas.

Cruzamo-nos com alguns habitantes que nos desejam “boa sorte” na caminhada e uma moradora aproxima-se de nós com uma bacia repleta de cerejas. “Provem-nas, foram colhidas agora mesmo”, diz, generosa. É, por isso, a saborear uma cereja fresca que nos embrenhamos no primeiro pedaço de trajecto que, felizmente, é à sombra.

O caminho começa a subir, enquanto atravessamos o bosque de castanheiros, com alguns exemplares centenários. Apesar da gestão da zona classificada ser pública, os terrenos são privados e a apanha da castanha ainda é feita pelos proprietários, pelo que qualquer tentação outonal de apanhar umas castanhas para levar para casa está sujeita ao pagamento de uma multa. “Elevada”, avisa Miro. O guia vai explicando que este percurso também pode ser feito a cavalo e como já começamos a beber água, pelo esforço da subida, pensamos que percorrer o caminho entre as árvores dessa forma teria sido uma belíssima ideia. O bosque é muito bonito, com algumas árvores ainda novas, de troncos finos e claros, e outras muito velhas, de casca rugosa e escura, em torno de um tronco demasiado largo para ser abraçado por apenas uma ou duas pessoas. “Há quem diga que algumas destas árvores têm oitocentos anos, mas não juro que assim seja. Duzentos têm, de certeza”, explica o guia.

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