Bjorgvin Gestsson, um islandês que acompanha a nossa visita, conta que ainda recentemente era muito fácil para um local ir tomar um banho à lagoa Azul, que no início nem sequer tinha nenhuma estrutura de apoio como a que tem hoje, com balneários, loja e restaurante. Mas isso foi antes de o turismo a ter transformado num sucesso (chegou mesmo a ser usada como cenário para filmes), de tal forma que no princípio do próximo ano vai iniciar-se ali a construção de um hotel de luxo, com conclusão prevista para 2017.
A história da lagoa Azul começa em 1976 quando, depois da construção de uma central eléctrica que usa a energia natural das águas quentes, formou-se uma piscina natural que, a partir de 1981, começou a ser usada pelas pessoas e a partir de 1992 a ser explorada por uma empresa.
Mas o mais irreal da nossa experiência na lagoa Azul é o final. Deixamos o local depois do jantar, já perto da meia-noite, com a luz de um entardecer de Verão e percorremos o caminho de regresso aos carros por entre as pedras de lava negra. Não é dia e não é noite. Como astronautas abandonados num planeta distante, esquecemo-nos das horas no meio de uma paisagem lunar a observar um sol que nunca se põe.
A comida
Estamos em Husavik, na ponta norte da Islândia. Apesar de ser preciso sobrevoar toda a ilha para lá chegar (ou, em alternativa, percorrê-la de carro pela estrada que segue ao longo da costa) é uma zona que começa a ter também cada vez mais turistas sobretudo porque se apresenta como “a capital do avistamento de baleias”.
Acabámos precisamente de fazer uma viagem de barco, vestidos como o homem da Michelin, com fatos que não deixam entrar o frio. Só que o frio (por causa da velocidade do barco) é cortante e gela-nos as mãos e a cara. Vimos os golfinhos a saltar à nossa frente como se soubessem exactamente como conseguir o melhor efeito nas fotografias. E vimos uma baleia exibindo toneladas de elegância nos seus elaborados mergulhos.
A nossa excursão não podia ter corrido melhor, mas agora estamos cheios de fome e não vamos conseguir esperar pelo jantar. Por isso lançamo-nos para uma roulotte para ver o que podemos petiscar. E, lá está ele, um pequeno quadro negro escrito a giz anunciando, em inglês, a especialidade que tínhamos visto Anthony Bourdain, no seu programa televisivo No Reservations, considerar simplesmente uma das piores coisas que alguma vez tinha provado: o hákarl, carne de tubarão fermentada. Mas estávamos ali. Não havia como escapar.
Reli o que estava escrito no quadro: “Traditional Icelandic ‘Rotten’ shark meat”, seguido de uma explicação de que se trata de “um prato nacional da Islândia” no qual a carne de tubarão é sujeita a “um processo particular de fermentação e pendurada a secar durante quatro, cinco meses”. Vende-se aqui, acrescentavam, com um pequeno smile inocente a acompanhar.
Os pedacinhos de carne branca vêm numa caixa de plástico redonda e hermeticamente fechada. Depois de a abrirmos, notamos imediatamente o cheiro a lembrar algum tipo de queijo francês de forte personalidade. Mas só no paladar se revela inteiramente a identidade do hákarl – um acentuado sabor a amoníaco que nos leva logo a desejar ter acreditado mais em Bourdain.