Fugas - Viagens

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Três dias (e nenhuma noite) na ilha de fogo e gelo

Este é um dos efeitos positivos da crise: os islandeses foram obrigados a olhar para dentro e a valorizar o que têm. “Antes da crise os restaurantes importavam canguru da Austrália, veado da Nova Zelândia e peixe de todo o mundo, mas depois começámos a olhar para o que temos.” E que imagem é que a Islândia quer dar da sua gastronomia? “Quando se pensa na Islândia pensa-se em pureza e frescura. Devemos preservar isso. É o mais importante.”

As lendas

O restaurante Lava, da lagoa Azul, foi construído por entre as pedras de lava da zona. Conta o islandês Bjorgvin Gestsson que não foi uma tarefa fácil. A máquina que deveria perfurar a pedra avariou mais do que uma vez e as obras não avançavam. Os trabalhadores começavam a ficar inquietos – e os investidores ainda mais.

Até que, continua Bjorgvin divertido, alguém decidiu chamar uma das pessoas que “comunicam com os elfos”. E em boa hora o fizeram porque, reza a história, os elfos estavam mesmo descontentes com a obra num território deles. Os elfos foram muito claros: queriam conhecer o projecto, queriam ver os desenhos. Os arquitectos apressaram-se a colocar todo o projecto numa pen que foi depositada numa falha na rocha. E, garantem-nos, a partir daí as obras decorreram sem mais problemas. Os elfos tinham aprovado o projecto.

A Islândia é um país de lendas e de fantástico e para muita gente os elfos e outros seres do género são parte do quotidiano. Ou será que não? Alda Sigmundsdóttir diz que não, que toda a história dos elfos é “para turista ver” e para alguns (organizadores de visitas a elfos que nunca se materializam, por exemplo) ganharem dinheiro.

Dito isto, há algo de fantástico nesta terra de água e fogo, como os fãs de Bjork ou dos Sigur Rós bem sabem. Pela sua posição geográfica, a Islândia manteve-se relativamente isolada (a língua islandesa, por exemplo, é semelhante a uma versão arcaica do norueguês) e talvez por isso as histórias do tempo dos vikings mantêm-se presentes.

A revista em inglês Iceland Magazine contava num dos seus números que a Ásatrú, a religião praticada pelos primeiros colonos vikings a chegar à ilha, está hoje a despertar interesse num número crescente de pessoas. A palavra que dá nome a esta religião pagã significa simplesmente “ter fé nos deuses” e era isso que os vikings faziam antes de a Islândia se ter tornado cristã no ano 1000, numa cedência que poderá ter evitado uma guerra civil. Mas, aparentemente, o panteão de deuses e deusas não foi esquecido e o grupo de 12 pessoas que em 1972 praticavam esta religião, que foi oficialmente reconhecida em 73, aumentou para 3000 hoje.

Para perceber esta presença do passado na vida dos islandeses é preciso recuar no tempo e entender a história do país desde o século IX, quando aqui chegaram os primeiros vikings, que começaram a povoar a ilha vulcânica socorrendo-se de escravos, muitos dos quais vindos das ilhas britânicas, nomeadamente da Irlanda.

A vida nesses primeiros tempos não era apenas difícil – era duríssima. Imagine-se uma ilha onde praticamente só existe turfa e pedra e onde estes primeiros colonos tentaram lançar as bases da agricultura. Foi preciso organizar uma sociedade a partir do zero. Daí que a Islândia se orgulhe de ter um dos mais antigos parlamentos do mundo.

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