Para a construção do novo edifício foram apresentados quase uma centena de projectos (concurso ganho pelos arquitectos Charles Barry e Augustus Welby Pugin) e antes de se atingir a segunda metade do século XIX já as obras estavam terminadas, com uma opulência que se expressa no exterior mas também no interior, com as suas 1100 salas, 11 pátios e quase cinco quilómetros de corredores.
O palácio, com os seus elegantes pináculos dourados e estátuas de reis debruçando-se sobre o rio, está flanqueado por duas torres, qual delas a mais imponente: numa, a Victoria Tower, estão guardadas cópias de todas as leis do parlamento desde 1497, na outra, fotografada diariamente por milhares de turistas e encimada por um relógio, o famoso Big Ben, um sino com 13,8 toneladas que presta tributo a Benjamim Hall, o responsável pelos trabalhos quando as obras na torre foram concluídas em 1858.
Hesito mas não resisto ao impulso de dominar a cidade desde as alturas (135 metros), perscrutando os símbolos arquitectónicos ao longo da Queen’s Walk — mas não só — do interior de uma das 32 cabinas envidraçadas do London Eye, tão contrastantes com o classicismo dos edifícios em redor. A cidade estende-se à minha frente, para trás, para os lados, avisto St. James’s Park, a abadia de Westminster, onde Isabel II, um pouco contra a vontade do pai, o príncipe Alberto, duque de York, mais tarde rei Jorge VI, se casou com Philip Mountbatten a 20 de Novembro de 1947.
Desde Guilherme, o Conquistador, em 1066, todos os monarcas são coroados naquele que é o templo mais famoso e mais antigo de Londres utilizando um trono medieval do século XI que ainda se conserva.
Isabel II não constitui excepção — o pai faleceu em Fevereiro de 1952 e, por essa altura, a actual rainha de Inglaterra encontrava-se, na companhia do marido, no Quénia. A sua coroação oficial teve lugar em Junho do ano seguinte e pela primeira vez a cerimónia foi transmitida pela televisão e vista um pouco por todo o globo.
A nora que tudo permite contemplar desce, estreita-se o campo de visão, limito-me a plantar os olhos no Tamisa, procurando imaginar como era a vida em Londinium, no tempo dos romanos, ou ainda mais para trás, quando as suas margens eram habitadas pelos celtas, atraídos pela relativa facilidade de navegação para quem vinha da costa. O mar do Norte penetrava, insinuando-se pelo interior da ilha, ao longo de 80 quilómetros, senhor e dono de marés cíclicas — e não foi por acaso que Júlio César escolheu a cidade para fundar, no ano 55 a.C., um porto até onde os seus barcos podiam chegar utilizando apenas a força do mar, sem estarem dependentes do vento ou de remos.
A capital em mudança
Sento-me, por algum tempo e com um prazer renovado, a observar as pessoas, os turistas, a fúria, mais avassaladora do que as águas do rio, cada um transformado num fotógrafo, levando para casa uma memória sem memória, enquanto os edifícios, agora que as nuvens substituem o sol, parecem mais tristes, talvez pela súbita mudança de humor do clima, talvez pela indiferença com que são olhados, de uma forma tão fugaz.