O interior, subindo a ampla escadaria, oferece uma interessante panorâmica sobre Londres, com o Tamisa e todo o conjunto arquitectónico que o bordeja. A vista é ainda mais soberba desde a Waterloo Bridge e muitos são os turistas que a cruzam para fotografarem alguns dos monumentos mais emblemáticos da cidade. O que muito poucos sabem é que, pouco depois de ser construída, em 1817, a ponte, imortalizada pela banda inglesa The Kinks em Waterloo Sunset, tornou-se um dos lugares mais populares para tentativas de suicídio — em 1844, um ano antes da sua morte precoce, o poeta inglês Thomas Hood escreveu A Ponte dos Suspiros, sobre o suicídio de uma prostituta na Waterloo Bridge.
Destruída na década de 1920, após terem sido detectados problemas nos pilares de suporte, a Waterloo Bridge é conhecida por esta designação pelos turistas. Mas experimente perguntar a um dos homens que os transportam de barco ao longo do Tamisa e verá como a resposta é diferente — é a Ladies Bridge, a única que sofreu danos provocados pelos bombardeamentos alemães e restaurada com a ajuda de 25 mil mulheres.
Um mundo das artes
Retomo o caminho da rainha, a cortina do céu começa a abrir-se e o sol volta a brilhar quando alcanço o Royal National Theatre, a mais proeminente companhia de teatro de Londres financiada por fundos públicos e com mais de duas dezenas de produções anuais em cena, um vasto programa que incluiu peças de jovens dramaturgos. O edifício, construído na década de 1970 e todo em betão (um exemplo da arquitectura brutalista, tal como a Hayward Gallery), acolhe três teatros, o Dorfman (o antigo Cottesloe, agora renovado), o Lyttelton e o Olivier, sendo este último, projectado segundo o modelo do Teatro Grego de Epidaurus, o maior de todos, com uma capacidade para mil espectadores — e todos os lugares sem qualquer elemento que perturbe a visão para o palco.
Mais para a frente, dominando o céu, recorta-se a Oxo Tower, inicialmente uma central eléctrica e mais tarde, depois de renovada em estilo Art Deco, convertida em armazém frigorífico por uma empresa de comercialização de carne de boi (daí a designação), com as suas três janelas (de cada um dos lados) na vertical formando a palavra OXO, a forma original que o antigo proprietário encontrou para desafiar a proibição de colocar publicidade (néon) na margem do rio.
Fito a torre sentado no antigo bairro portuário Gabriel’s Wharf, hoje transformado numa zona de ócio, com as suas galerias e lojas de design, os seus bares e restaurantes em espaços ocupados até 1980 por garagens e prossigo até ao Tate Modern, o museu britânico de arte internacional moderna e contemporânea que deu vida a uma central eléctrica desactivada e é, actualmente, uma das galerias mais visitadas do mundo.
Considerada uma das grandes referências ao longo da Queen’s Walk, o edifício do Tate Modern (existem quatro galerias Tate, uma toponímia que resulta de Henry Tate, o magnata do açúcar) foi desenhado na década de 1940 por Giles Gilbert Scott, o arquitecto responsável pela criação das famosas cabinas telefónicas londrinas — e errar por este espaço, principalmente pela Turbine Hall, com os seus 150 metros de comprimento e 35 metros de altura, é uma experiência gratificante, como gratificante deverá ser para os artistas expor os seus trabalhos nesta imensa antiga turbina.