Para a direita, perscruto o Shakespeare’s Globe Theatre, inaugurado em 1997 com uma produção de Henry V e uma réplica do original Globe, construído em 1599 por Lord Chamberlain’s Men, uma companhia teatral à qual Shakespeare pertenceu e para quem escreveu alguns dos seus trabalhos mais mediáticos. Em 1613, no momento em que Henry VIII era levado à cena, um canhão falhou o alvo e rapidamente se instalou o caos quando o telhado de palha começou a arder — em menos de duas horas a sala transformou-se em cinzas. Reconstruído no ano seguinte, já com o tecto em telha, funcionou como sede da companhia de Shakespeare até 1642, altura que a Administração Puritana Inglesa (I Guerra Civil), no poder então, decretou o encerramento de todos os teatros — e em 1644, não tendo já qualquer uso, foi mandado demolir.
Hoje, o Shakespeare’s Globe Theatre, mandado erguer segundo a visão do actor/director americano Sam Wanamaker de acordo com as práticas de construção do século XVI, ocupa uma área próxima do lugar onde existiu o teatro original, cujas fundações (pelo menos uma parte) foram descobertas em 1989, na Park Street, em Southwark, na altura nas margens do Tamisa mas actualmente 200 metros para o interior.
Atravesso a Millennium Bridge, a ponte pedonal (aparece no filme de Harry Potter, O Príncipe Misterioso) que conduz à Catedral de São Paulo e liga a margem sul à City desde 10 de Junho de 2000, dia em que foi cruzada por mais de 100 mil pessoas, provocando o seu encerramento, por excesso de peso, até 2002; deixo a catedral para mais tarde e acerco-me da Tower Bridge, inaugurada em 1894 e, nessa época, o postal perfeito da magnificência da engenharia inglesa nesta cidade que não esconde o seu orgulho e nunca se cansa de expor a sua grandiosidade.
Da Tower Bridge lanço os olhos até à City Hall, o edifício da edilidade londrina em forma de bolbo e uma das criações de Norman Foster; por trás, como quem espreita por cima de um ombro, o Shard, subindo nos céus a mais de 300 metros e desde 2012 a torre mais alta da Europa, uma obra do arquitecto italiano Renzo Piano que é bem capaz de provocar um sentimento de ciúmes em Foster e que, decididamente, alterou a paisagem da capital em permanente metamorfose.
Oh has the world changed or have I changed?
Oh has the world changed or have I changed?
Devolvo o gira-discos e o LP ao armário, suspeitando que tão cedo não lhes volto a tocar. E regresso ao portátil para escrever o que me resta.
A sala enche-se com o som que sai das colunas em poucos segundos. Podiam ser os Sex Pistols. Mas é o hino de Inglaterra. Que provavelmente Morrissey se recusa a ouvir.
God save our gracious Queen,
Long live our noble Queen,
God save our Queen:
Send her victorious,
Happy and glorious,
Long to reign over us Queen:
God save the Queen.
Guia prático
Como ir
São várias as companhias europeias que ligam Lisboa a Londres mas a melhor tarifa (pouco mais de 220 euros para um bilhete de ida e volta), tendo como base o mês de Setembro, é proporcionada pela easyJet, com uma ligação ao aeroporto de Gatwick. A Ryanair, também viaja para a capital inglesa a preços em conta mas com o inconveniente de o fazer para o aeroporto de Stansted. Para a mesma altura, TAP e British Airways, ambas com voos directos, cobram aproximadamente 350 euros.