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Silêncio, nestas cidades fala-se de música

Do alto, escutando os murmúrios que se soltam da igreja, avisto a cidade e deixo-me assaltar pelas memórias da véspera, do ambiente festivo e boémio que caracteriza a noite de Bogotá, centrado nesse lugar onde se deve ir pelo menos uma vez na vida, com o sugestivo nome de Andrés Carne de Res. É um restaurante, uma discoteca, um bar, um lugar para bailar, está localizado nos subúrbios da cidade, em Chia, e abraçado pelos cheiros da natureza; olha-se para o espaço e pensa-se, de imediato, num cabaret, com os seus múltiplos letreiros que espalham o néon pelas ruas, um lado profano que logo é atenuado pela presença de objectos que me fazem sentir que estou na Colômbia, as imagens de virgens ao lado de outros ícones aos quais estão habituados a prestar culto – a prova de que o povo, sempre disponível para a festa, nunca renuncia ao fervor com que encara a religião.

Rumbas, mais rumbas, as mesas são afastadas, o local transforma-se, num abrir e fechar de olhos, numa pista de dança, a noite prolonga-se, estende-se até aos primeiros alvores do dia, já ninguém mais se recorda, a esta hora, da Virgem de Montserrat, de deixar uma mensagem nas suas paredes, como testemunho de uma visita que todos, com maior ou menor devoção, acabam por fazer.

Na Colômbia, e mais em Bogotá, agora que o país já não escuta as ondas de um mar agitado, há um tempo para (quase) tudo: um para a diversão, outro para a devoção.

Todos aqueles que procuram não se afastar muito da capital, podem sempre permanecer em algum dos muitos bares de La Candelaria, embrenhando-se na cultura cervejeira tão associada ao bairro da cidade, enquanto escutam uma cumbia ou uma outra tendência mais moderna, porque de tudo se encontra, desde há uns anos a esta parte, numa cidade com apetência para deixar o espírito do viajante desassossegado.

Não, Bogotá renasce: sendo uma cidade onde é necessário estar atento, como tantas outras no mundo, com pouco espaço para a ingenuidade do turista, principalmente quando a noite se começa a insinuar, é uma cidade tranquila, onde a música galga fronteiras, vibrante e com uma energia contagiante.

Bogotá integra, desde 2012, a rede das cidades criativas, um projecto da UNESCO (Idanha-a-Nova é candidata) criado para promover a diversidade cultural e a cooperação internacional entre cidades em áreas como a música (no caso da capital colombiana), a literatura, cinema, artesanato e arte popular, design, artes e media e gastronomia. Nesse sentido, desde 1995 que Bogotá organiza o Festivales Al Parque, um programa que inclui concertos grátis ao ar-livre de rock, jazz, salsa, hip hop e de música clássica, acolhendo mais de meio milhão de espectadores todos os anos – uma medida inteligente das entidades locais para atrair os cidadãos aos espaços públicos e para reforçar a identidade e diversidade cultural de Bogotá.

Ao mesmo tempo, a urbe colombiana acolhe outros 60 festivais de música e cerca de 500 concertos por ano, o que faz dela um importante centro regional em estilos tão distintos como salsa e opera, electrónica e ranchera, bolero e gospel e música tradicional do país.

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