Fugas - Viagens

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Guatemala: No cimo do vulcão e com vista para o vulcão

As horas avançam e eu também, agora até ao Centro Cultural FEGUA y Museo del Ferrocarril, na antiga estação ferroviária da capital. Passeio pelas suas carruagens, observo utensílios de cozinha utilizados, num tempo ou noutro, nos seus vagões-restaurantes, apreendo um pouco sobre os dias de glória do caminho-de-ferro guatemalteco e da sua atribulada história que se divide em três fases que correspondem à vida (e à morte) das locomotivas (às quais está vedado o acesso), desde o vapor ao gasóleo.

Sem que me aperceba, estou de volta ao Parque Central, como se o mundo girasse à volta dele. Mesmo em frente, a Catedral Metropolitana desafia-me a visitá-la. Construída entre 1782 e 1815 (as torres apenas foram concluídas em 1867), encerra uma existência que podia ter paralelo no país, inquieta, desassossegada, mas sempre sobrevivendo e erguendo-se quando já ninguém lhe augurava um futuro e muito menos um futuro risonho. A sua estrutura é megalómana em comparação com ornamentos tão esparsos mas os altares, observados com tempo, não deixam ninguém indiferente – e muito menos a sua capacidade para resistir, a terramotos e a incêndios, a despeito dos danos provocados em 1917 e, em maior escala, em 1976 (morreram mais de 20 mil pessoas em todo o país).

Um número, uma cidade

A Cidade da Guatemala está dividida em zonas e antes de abandonar a Zona 1, agora que algumas nuvens cavalgam no céu, lentas como uma caravana de camelos no deserto, dispenso uma parte do meu tempo ao Museo Nacional de Historia, à sua interessante colecção de fotografias e de retratos que incluem generais e políticos com cortes de cabelo que não tardam a provocar uma gargalhada entre alguns dos poucos visitantes que me acompanham nesta viagem ao passado, da fotografia e dos barbeiros.

Na Zona 2, para norte, palco privilegiado da classe média, o Parque Minerva proporciona-me uma visão global (embora exagerada) de todo o país, através do famoso Mapa en Relieve, o mapa em relevo, construído em 1905 sob a direcção de Francisco Vela e restaurado em 1999, que tem a particularidade de representar vulcões e montanhas muito mais altos e íngremes do que são na realidade - ou Belize, cuja independência apenas foi reconhecida em 1992, como sendo ainda parte integrante da Guatemala.

Se é uma questão de orgulho, esse sentimento ganha contornos ainda mais definidos quando se erra pela Zona 4, pelo Centro Cívico, com os seus imponentes edifícios governamentais e institucionais erguidos durante as décadas de 1950 e 1960. Entre eles, a sede do Inguat, o Instituto de Turismo Guatemalteco, o Palacio de Justicia, o Banco de Guatemala (com esculturas em relevo de Dagoberto Vásquez retratando a história do país) e a Municipalidad de Guatemala, este último contendo um enorme mosaico de Carlos Mérida, terminado em 1959.

Da Zona 7, ao início da manhã do dia seguinte, passo para a Zona 10 – não sem antes admirar o Parque Arqueológico Kaminaljuyú, com reminiscências de uma das mais importantes cidades maias, abrigo para milhares e milhares de habitantes entre 400 anos a.C. e o final do século I.

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