O Castelo de Montemor-o-Velho foi construído pelos árabes ainda no século VIII e a partir dali irradiava para os campos do Mondego uma população de agricultores que, ao longo dos tempos, foram trabalhando os campos alagados pelas cheias até conseguirem terreno fértil para as grandes sementeiras de linho e trigo que precederam o actual cultivo do milho.
O sítio do castelo foi bem escolhido para ter o máximo de visibilidade e por isso quem percorre a muralha consegue, ainda hoje, ter a máxima vista e gozar do caminho de ronda como de um miradouro contínuo. Atrás das muralhas do castelo, um torreão, tal como em Granada o Alhambra servia de alcáçova aos senhores da altura e dali se avistava a paisagem em redor: a foz do Mondego a 12 km, o rio navegável até Coimbra, a grande planície agrícola recortada por montes, as valas acompanhadas de linhas de choupos, amieiros e salgueiros que serpenteiam, verticais na planura verde. A igreja do castelo foi adaptada à antiga mesquita do período islâmico de Montemor. Do Paço Real restam pedaços de parede em ruína que enquadram a vista para sul de forma surpreendentemente bela.
D. João I deu o castelo ao seu filho Infante D. Pedro, Duque de Coimbra, o das sete partidas que percorreu a Europa até ao Médio Oriente e de Veneza trouxe o precioso Mapa-Múndi de Marco Polo. D. Pedro, que gostava de Montemor e aí ficava frequentemente, estabeleceu as regras para que as valas da lezíria estivessem sempre limpas e escoassem a água ou servissem para regar. O regulamento dos valadores de D. Pedro mostra bem o cuidado na manutenção desta preciosa terra de produção ganha ao longo dos séculos aos pauis pantanosos do Baixo Mondego. “Foi titânica a sua luta para regularizar as águas do Mondego. Obra de vulto para a qual o Infante carrearia muitos dos seus conhecimentos de homem viajado.” O resultado deste esforço continuado de séculos, iniciado pelos árabes, continuado pelos monges de Cister e de Santa Cruz, e prosseguido pelos valadores de D. Pedro, é a produtividade e a beleza da grande planície do Baixo Mondego bem à vista do castelo de Montemor.
As paisagens descobrem-se entre brumas matinais no Outono, entre verdes férteis no Verão enquanto o milho e o arroz crescem. No Inverno a grande planura é marcada pelas árvores despidas e altas que acompanham as tão famosas valas.
Miradouros de Portugal
São 20 os miradouros destacados nesta série que vão levar o leitor a visitar, em Portugal continental, um “lugar elevado de onde se avista um horizonte largo”. São o nosso património das vistas:
1. Penedo Durão
2. Nossa Sr.ª da Saúde
3. Forte de Almeida
4. Fragão do Corvo
5. Covão da Ametade
6. Castelo de Montemor-o-Velho
7. Miradouro da Bandeira
8. São Pedro de Moel
9. Sítio da Nazaré
10. Pedreira do Galinha
11. Outeiro de São Pedro
12. Forte de Paimogo
13. Ponta dos Corvos
14. Cabo Espichel
15. Castelo de Marvão
16. Forte de Nossa Senhora da Graça
17. Cromeleques dos Almendres
18. Cabo Sardão
19. Cabo de São Vicente
20. Cacela Velha
Pela Equipa ACB Paisagem