Assim nascia, em Estrasburgo, o mercado de Natal, agradando a uns e a outros.
A cidade dos cheiros
Cheira a vinho quente, doce e frutado, a pão e a especiarias ao longo das artérias desta cidade que conserva o seu charme medieval, célebre também, desde tempos imemoriais, pelas suas feiras que atraíam negociantes de toda a Europa. Ainda hoje, Estrasburgo mantém essa vocação e o mercado de Natal é, ainda que a uma escala reduzida, um retrato desses tempos. Mal a noite se anuncia, as ruas enchem-se de gente, de um formigueiro humano que erra sem pressas por este ambiente sedutor, perscrutando as montras das lojas com o seu brilho, as decorações reluzindo à luz das lanternas nas fachadas das casas, e recuperando, no caso dos mais velhos, memórias e odores da infância – e como o da canela inunda o ar.
Como uma força saída das profundezas das igrejas, os cânticos ecoam no céu sem estrelas, apaziguando ainda mais os espíritos impregnados do espírito de Natal. Centenas de comerciantes com as suas barraquinhas de madeira tentam atrair, com os seus rostos emoldurados por sorrisos, os transeuntes, propondo produtos que vão dos presentes originais aos tradicionais ornamentos para a árvore de Natal e tudo o que envolve a quadra natalícia, sem esquecer uma variedade infindável e sem fronteiras de guloseimas para os mais pequenos.
A noite, tendo chegado cedo, prolonga-se e convida ao passeio pelas ruas enfeitadas de Estrasburgo. Fico por alguns minutos a observar, mesmo aos pés da catedral, uma das atracções mais concorridas, um ringue de patinagem onde os mais jovens se divertem por entre risos, quedas e equilíbrios precários que não parecem preocupar os pais. Afasto-me da catedral, na praça homónima, e tendo sempre como banda sonora, umas vezes mais próximos, outras mais distantes, os cânticos de Natal, alcanço a Place Kleber, embelezada por uma árvore gigante que sobe no céu a uma altura de 30 metros e que faz bater com mais força o coração de todos os que a contemplam, tão bonita é a forma como está decorada.
A Place Kleber acolhe, todos os anos, a village du partage, uma tradição ancestral que se perpetua e reúne seis dezenas de associações de caridade, igualmente alojadas em casas de madeira e que convidam o visitante a descobrir as suas acções humanitárias e a participar no esforço comum de generosidade.
Por aqui e por acolá, acolhendo nos seus telhados flocos de neve, mais umas dezenas de chalés, com os seus produtos que são fontes intermináveis de surpresas e raros ao longo de onze meses, alguns deles transportados para as mesas na ceia de Natal.
Todos os anos, de forma a valorizar o trabalho dos expositores e a premiar a qualidade dos seus produtos e a decoração, uma comissão avalia as candidaturas ao concurso do melhor chalé e, entre três centenas, selecciona dezena e meia. Uma vez anunciada a lista final, os visitantes dispõem de uma semana para votar no seu preferido e o prémio é anunciado e entregue num dos últimos dias do ano, numa cerimónia que tem lugar no Hôtel de Ville.