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Estrasburgo: O Pai Natal põe a alma em movimento

De igual forma – e a exemplo do que vem sucedendo nos últimos tempos –, o mercado de Natal, com a sua vocação lúdica, pedagógica e ornamental, convida um país – nesta edição será a vez do Luxemburgo – a promover as suas riquezas culturais, o seu artesanato e as suas especialidades gastronómicas, em conjunto com concertos e espectáculos de animação que pretendem ser uma amostra da diversidade cultural – neste caso – do Grão-Ducado.

Imagem para o exterior

Antes do entardecer inquieto que caracteriza os dias nesta altura do ano, regresso à catedral, esse “prodígio do gigantesco e do delicado”, como a descreveu Victor Hugo, com quatro milhões de visitantes por ano (apenas suplantada em França pela Notre Dame de Paris). Eu, como muitos ao longo de quase mil anos (as obras iniciaram-se em 1015 mas apenas foram concluídas quatro séculos mais tarde), também abro a boca de espanto perante aquela que é considerada, com toda a justiça, uma das obras cristãs mais colossais da Europa medieval. E nem sequer é necessário, para ficar maravilhado, cruzar o pórtico de entrada – basta plantar um olhar demorado na fachada principal, nas centenas de esculturas e na sua torre que se eleva, como uma agulha furando os céus, a quase 150 metros de altura, com as melhores panorâmicas sobre a cidade. No interior, destaca-se um relógio astronómico construído em 1547 por relojoeiros suíços (o mecanismo actual data de 1842), a contemplar de preferência às 12h30, quando os autómatas representam uma cena de Cristo e dos apóstolos. A nave, inundada de música, alberga um púlpito lavrado, um órgão monumental, vitrais dos séculos XII ao XIV que banham de luzes coloridas o interior e, mais difícil de encontrar, uma escultura de um velhinho curvado, na base de um pilar, sustendo todo o peso do monumento, como conta a lenda e símbolo de resistência de uma cidade que sempre soube renascer das cinzas.

Mas é no exterior, vista do alto da catedral, que a cidade, um pedacinho da Alemanha em França, começa a fervilhar, uma vez mais, de vida, agora que a noite volta a tombar e as lanternas se acendem. Estrasburgo, capital do Natal, é hoje uma marca que também se exporta. Em 2009, e pela primeira vez, 30 artesãos instalaram-se em 15 casinhas de madeira no centro de Tóquio para mostrarem aos japoneses o artesanato e as tradições alsacianas. Num mês em que, por norma, era pouco procurada por turistas, o mercado de Natal, sendo uma manifestação do culto da nostalgia, em que o visitante se sente transportado, mal as ruas e vielas se iluminam, para um outro século, faz parte de uma estratégia comercial cujos resultados são antagónicos. Se, por um lado, a cidade registou, desde 1993, um aumento de quase 200% no número de visitantes (serão, em média, actualmente, cerca de dois milhões), por outro, ao longo das suas praças, errando pelo meio dos seus chalés, fica-se com a sensação de que o mercado vai perdendo a sua alma, tal a profusão de produtos de origens que nada têm a ver com a quadra natalícia – e alguns deles facilmente se encontram em supermercados.

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