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A quadra natalícia no outro lado do mundo

Avancemos pela Jalan Bunga Raya, uma das mais animadas ruas comerciais de Malaca, ao longo de arcadas tão úteis para as chuvas torrenciais da monção como para o sol da abafadiça península malaia. Aí se sucedem, sem pausa, lojas e lojas chinesas com toda a sorte de mercadorias. À porta de uma delas, Mr. Cheng oferece-me um cigarro. É o proprietário. Tem mais duas lojas na mesma rua — a que se avista dali, a uma dezena de metros de distância, fornece artilharia ornamental para o ano novo chinês. Um pouco adiante, a Red Ant Fashion tem três ou quatro manequins à porta vestidas com minissaias e coroadas por barretes de Pai Natal.

Mr. Cheng é um homem prático e privilegia a harmonia eleita pelos ensinamentos de Confúcio: “Esta loja só abre nesta altura do Natal, vem cá muita gente comprar árvores e lâmpadas.” E presépios – as prateleiras estão cheias deles, nem é preciso entrar para atestar a variedade de feições e tamanhos. Não é improvável que alguns dos que enfeitam os pátios das casas no Portuguese Settlement, nos arrabaldes de Malaca, em Ujong Pasir, tenham saído da loja de Mr. Cheng.

Selamat Hari Krismas” é a saudação natalícia na Malásia, embora o internacional “Merry Christmas” seja mais popular em algumas zonas do que a expressão em bahasa. Nos centros comerciais e nos hotéis, um pouco por toda a parte, o acolhimento é semelhante: canções e árvores de Natal, luzes e luzinhas catrapiscando as cores num ambiente feérico e de ardente consumismo. Em Kuala Lumpur, na Bukit Bintang, uma das ruas mais nataliciamente iluminadas da capital, dotada de milhares de lâmpadas coloridas a tremeluzir por toda a parte, o centro comercial Pavilion, um dos mais luxuosos da cidade, traja sofisticadas decorações executadas com o que parece ser tecnologia de ponta nesse domínio. O efeito é o de imersão no cenário de um conto de fadas. Tal como no Surya, o seu congénere das ilustres torres gémeas da Petronas, toda a gente se faz fotografar ao lado do ícone mais emblemático da época — a árvore de Natal. Num recanto do grande átrio do Pavilion, um grupo coral de moçoilas vestidas de Pai Natal “swinga” um animado Jingle Bells.

As celebrações entre os cristãos, que representam quase 10% da população da Malásia, maioritariamente muçulmana (sunita), não são muito diferentes das de outras comunidades semelhantes noutras latitudes — reina aqui uma certa comunhão cultural. Os mais religiosos acorrem à missa do galo, há troca de presentes, brinda-se com vinho. E não raro são endereçados convites a amigos de outras comunidades religiosas para o banquete familiar no dia de Natal.

O clima leva o Natal para a rua

Tal como acontece na Malásia, a Indonésia, o mais povoado país muçulmano do mundo, consagra constitucionalmente a liberdade de culto — embora no arquipélago apenas seis religiões sejam reconhecidas. O islão (sunita) é a religião oficial, que coexiste com uma série de outros cultos minoritários. No arquipélago indonésio, um autêntico arco-íris religioso, há, mesmo, ilhas em que as religiões que aí são maioritárias têm reduzida expressão em termos nacionais. A ilha das Flores é maioritariamente cristã e em Bali a maioria da população é hindu, por exemplo. Noutras regiões os números oficiais apontam percentagens extremamente variáveis de cristãos — entre menos de 1% e os mais de 80% de algumas áreas de Kalimantan, a sul de Bornéu.

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