A professora de Filosofia de 36 anos e o representante de vendas de 35 estão a meio da grande aventura a que se propuseram (Indonésia, Tailândia, Laos, Vietname e Camboja já ficaram para trás). “Decidimos que seria bom para a nossa sanidade mental fazer uma pausa de um ano”, explicam. Queriam conhecer novas culturas, aprender com realidades diferentes e mudar a tónica dos bens materiais para os bens humanos. E uma coisa já sabiam: tinham de respeitar os locais. “Nós é que estamos ali a mais, aquele espaço é deles. Nós é que somos os diferentes. Também seguimos a máxima popular ‘Em terra onde fores, faz como vires fazer’.” Isso ajudou-os numa viagem num comboio nocturno, também no Vietname. Ao chegarem aos seus lugares, encontraram um compartimento com cerca de dois metros quadrados e seis camas. Estavam já lá cinco pessoas: um homem trazia o filho, de seis anos, que estava numa das camas destinadas ao casal. As contas foram rápidas: “Seis camas, cinco vietnamitas, dois portugueses. Alguém estava a mais”. Decidiram que eram eles e então instalaram-se no corredor (apertadíssimo), sem janelas que abrissem e com baratas (bastantes) a passear, para uma viagem de 12 horas. Uma vez aí, uma das revisoras, primeiro desconfiada e com cara de poucos amigos, percebeu que os “estranhos” tinham cedido a cama a uma criança — duas horas depois tinham dois lugares sentados, limpos e com janela que abria.
Quando começaram a preparação da viagem, Mariana e André tiveram muitas dúvidas e uma certeza absoluta: iam à Nova Zelândia e iam aproveitar o visto de três meses. Antecipavam o que encontraram, uma “lufada de ar fresco, quer pelas paisagens, autênticas obras de arte, quer pela cultura que se vive”. “É incrível a forma como as pessoas respeitam a natureza e os animais”, contam. E aprenderam “que é possível confiar”, num país em que as pessoas têm a prática de deixarem as casas e os animais de estimação ao cuidado de desconhecidos. Mariana e André têm sido esses desconhecidos, através da rede de house-sitting. Na primeira vez, várias dúvidas pairavam sobre eles: será que as informações (condições e localização das casas, por exemplo) da plataforma online onde estão inscritos estavam correctas? A verdade é que a realidade superou as expectativas e na Austrália também são house-sitters.
No entanto, a Nova Zelândia não foi livre de sustos. Excessos de confiança: após uma caminhada de uma hora, chegados a uma “bela praia”, cheia de turistas, não hesitaram em dar um mergulho. A roupa e a máquina ficaram em cima de uma rocha e de repente viram duas raparigas aproximarem-se para tirar fotografias. “Numa paisagem tão bonita não se escolhe uma rocha cheia de tralhas, a não ser que haja lá algo de interessante”, pensaram, por isso, voltaram à rocha.
Alguma confiança, com bom resultado, sentiram no voo entre Banguecoque e Bali. Emprestaram 50 dólares ao casal chinês que seguia ao lado deles e que havia pedido comida: no avião só aceitavam bahts ou dólares e eles só levavam rupias indonésias. “Ficaram maravilhados! Quando o avião aterrou, ajudaram-nos na burocracia para a entrada no país, devolveram-nos o dinheiro e deixaram-nos os contactos para irmos jantar a casa deles em Banguecoque ou Taiwan.”