Não é apologista do “vamos embora e logo se vê”. “É demasiado arriscado”, considera, “e eu gosto de planear”. “Sempre fui uma pessoa bastante confiante. Penso muito sobre os assuntos, pondero, crio planos b e backups de emergência para tudo. Mas na hora de decidir e implementar, não penso muito nisso... Confio no instinto e faço!” Porque, por mais planeamento que faça, já lhe passou de tudo, já foi assaltado, já perdeu aviões e comboios, já ficou sem hotel.
Nas vezes em que não confiou no instinto, nem sempre as coisas lhe correram bem. Como há dois anos, numa guest house na Nicarágua. O preço era óptimo, mas sentiu algo estranho, que depois associou a uma troca de olhares da recepcionista. “Decidi ficar e fui assaltado. Não são coisas esotéricas mas deveria ter ouvido [o instinto].” Por outro lado, quando recebeu o convite para ficar numa casa na Nova Zelândia também ficou alerta, porém decidiu aceitar. “Tive uma experiência rara, de passar uns dias com uma tribo maori.”
Com tanto planeamento, o ponto fraco de André é quando viaja acompanhado. Baixa um pouco a guarda e isso já o colocou em situações complicadas. Na Costa Rica assaltaram-lhe o carro. “Fui desleixado, deixei as coisas lá”, confessa. Roubaram-lhe tudo. Sem dinheiro, a 500 quilómetros da capital, foi ajudado: num hotel deixaram-no dormir — “se tiver dinheiro depois paga, se não, não” —, um casal alemão, aí no hotel, ofereceu dinheiro — ele recusou, mas ainda assim surgiu-lhe um envelope debaixo da porta. Conseguiu chegar a São José e dois dias depois já tinha dinheiro, passaporte e continuou viagem. “Na altura foi dramático, hoje penso ‘ainda bem que aconteceu’. Percebi que nada é tão grave assim”, relativiza.
Apesar de tudo, assume-se como desconfiado em relação aos outros e acredita que em viagem é bom que olhem para ele e não tenham vontade de o roubar. “Quero parecer o mais pelintra”, brinca. Do que não abdica é da confiança em si. “Depois de tantas situações, sei que tudo se resolve e nada é tão problemático como pode parecer. Para além de situações de saúde ou acidente, tudo se resolve com relativa facilidade... e alguns dólares! Hoje em dia não tenho receio de ser ‘largado’ em qualquer sítio porque sei que se há lá gente é porque há transporte, sítio para dormir e comida.”
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Anabela Valente e Jorge Valente: “Vamos com as pessoas”
A história começa no Luxemburgo, lugar central da diáspora portuguesa e local onde Anabela Valente e Jorge Valente se conheceram: ela chegada para trabalhar nas instituições europeias, ele nascido no grão-ducado. Tornaram-se companheiros de vida e das viagens que começaram a fazer de mota. Primeiro na Europa, até que há dois anos pediram uma licença sabática e partiram para seis meses na América do Sul, sempre de mota. “E com muita calma, para conhecer pessoas e passear”, explica Anabela, via Skype (na altura, Jorge estava na Ucrânia, em missão com a Cruz Vermelha). Foram “minimamente” preparados e com receio q.b.. “Problemas há sempre, sobretudo se viajas de mota. Cair, por exemplo: não há um ‘se’ caíres, há ‘quando’ e ‘quantas’ vezes. E isso dá azo a muitas aventuras.” Essas aventuras mudaram-lhes a vida: agora têm uma revista semestral (Diaries of: cada número, um país) e deixaram os empregos para viajar.