Poucos meses na estrada já lhes permitiram perceber alguns truques com que se tenta enganar incautos, como quando apanharam um táxi, noite instalada, em Nha Trang. O taxista pega na nota que lhe deram, coloca-a na carteira e retira outra, furada, dizendo que é falsa. “Dissemos que íamos chamar a polícia e de repente a nota deixou de ser falsa e recebemos o nosso troco.” Também por isso esta viagem tem contribuído, “e muito”, para a auto-confiança deles. “Deixámos de recear o desconhecido. Sabemos que ainda falta um longo caminho, mas temos confiado em nós e nos outros e a resposta tem sido francamente positiva. Portanto, vamos continuar com a nossa táctica: confiar, nos outros e em nós.”
André Parente: A importância do instinto
“A primeira vez que cheguei à Indonésia tive um impulso para ir embora logo no dia seguinte. Muita confusão, idioma muito diferente, pessoas aparentemente a tentar enganar-me, trânsito caótico, motas por cima dos passeios, ruas sujas com oferendas... Respirei fundo, mudei-me para um hotel melhor e fiquei alguns dias só a observar, sem fazer praticamente nada além de dormir, comer e observar. Depois habituei-me e hoje em dia a Indonésia é dos meus destinos preferidos.” André Parente, 42 anos, não esquece o choque cultural na Ásia, que durante os próximos meses é a sua casa. Quando falámos com ele estava na Tailândia, onde ia ficar um mês — hoje parte para o Camboja. Ou amanhã ou depois de amanhã. Tem medo de andar de avião e por isso sempre que pode utiliza transportes terrestres, não está tão preso a datas. “Sei que é irracional [o medo] porque também sei que é seguríssimo [o avião]. É mais perigoso o que fiz há pouco, ir à praia de mota, descalço e sem capacete. Ou andar de autocarro na Índia ou no Peru.” Por isso, André também não deixa nada ao acaso: anda com umas chapas, “tipo dos soldados norte-americanos”, ou uma pulseira com placa, com os seus dados — identificação, número de passaporte, apólice de seguro, número de emergência, tipo de sangue — e no bolso leva o cartão de uma clínica internacional local. “Se me acontecer algo, quem me encontrar saberá o que fazer. A maioria das pessoas pensará que sou alarmista, mas as histórias aqui...”
Estes são truques que André foi aprendendo com as viagens — e não são os únicos — que partilha num grupo do Facebook (Viajantes Independentes), onde procura dar informação e confiança a viajantes independentes. Aprendeu, por exemplo, que não há problema em chegar a um sítio às 3h da manhã — “pedes um táxi para o melhor hotel da cidade, o preço vai ser demasiado caro, mas se pedires para ficar no lobby até amanhecer não recusam” — e que quando se sai de um autocarro e comboio o melhor é ficar para trás enquanto os taxistas vêm em busca de passageiros — “esses são os que podem tentar enganar-te”. Mas isto só com a experiência se aprende e ele já foi muitas vezes enganado em táxis.
Afinal, são muitas as viagens que os seus passaportes testemunharam. Sozinho, viajou pela primeira vez para a Austrália e Nova Zelândia, em 2007 empreendeu a grande aventura, um ano pelo mundo. Nos últimos anos tem dividido o seu tempo entre um ano em casa e meio ano a viajar — conseguiu conciliar o trabalho com as viagens, já que o faz online (marketing e webdesign). Se há algo em que tem de ter absoluta confiança é nas ligações à Internet: consulta fóruns online para avaliar e de cada vez que chega a um alojamento verifica tudo antes de instalar-se. Agora no Camboja, vai para uma ilha e não tem a certeza de como será a Internet, mas está preparado: “Posso ficar uns dias sem trabalhar, mas tem de ser por determinação minha.”