Fugas - Viagens

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Mariana Oliveira e André Gomes
    Mariana Oliveira e André Gomes
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Mariana Oliveira e André Gomes
    Mariana Oliveira e André Gomes
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Mariana Oliveira e André Gomes
    Mariana Oliveira e André Gomes
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Mariana Oliveira e André Gomes
    Mariana Oliveira e André Gomes
  • Cristina Fernández, entre os Himba (Namíbia)
    Cristina Fernández, entre os Himba (Namíbia)
  • Cristina Fernández, na Namíbia
    Cristina Fernández, na Namíbia
  • Cristina Fernández, Cataratas Victoria, Zimbabwe
    Cristina Fernández, Cataratas Victoria, Zimbabwe
  • André Parente
    André Parente
  • André Parente
    André Parente
  • André Parente
    André Parente
  • Anabela e Jorge Valente
    Anabela e Jorge Valente
  • Anabela e Jorge Valente
    Anabela e Jorge Valente
  • Anabela e Jorge Valente
    Anabela e Jorge Valente

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Viajantes: confiar é preciso, até certo ponto

Curiosamente, a maior aventura que viveram nesse périplo sul-americano não teve relação com a mota — mas a ela iremos. Já no final da viagem, Anabela e Jorge são apanhados quase no epicentro de um terramoto de 8,8 na escala de Richter, seguido de alerta de tsunami. Estavam em Iquique (Chile), numa estalagem em frente ao mar, eram quase 21h, e preparavam-se para dormir. A terra começou a tremer e eles saem para a rua, descalços, quase sem roupas, correndo quilómetros, seguindo os sinais de evacuação em caso de tsunami. A noite foi passada entre famílias chilenas, que lhes providenciaram roupa e comida. No dia seguinte, Anabela percebeu que tinha os pés cravejados de vidro e não quis voltar a dormir na estalagem, com medo que uma réplica a obrigasse novamente a correr. Uma família chilena abriu-lhes a sua casa, situada num ponto alto, e eles aceitaram sem hesitar. Em boa hora, porque houve novo sismo, desta vez de 7,7, mas não tiveram de fugir. “É incrível a generosidade das pessoas em situações limite”, reflecte Anabela, “nas horas difíceis em viagem temos sido sempre ajudados.”

E vamos à mota e aos imprevistos. “Nunca podemos marcar hotel, por exemplo, porque não sabemos até onde conseguimos chegar.” Uma vez, num anoitecer na Patagónia, acabaram a montar tenda no jardim de um morador de um local isolado, onde só havia um hotel muito caro e três ou quatro casas. “Pedimos e ele disse logo que sim.” Situação mais complicada foi vivida no Chaco, em território paraguaio. Sabiam que era uma zona muito desertificada e quiseram certificar-se que teriam lugares para abastecer a mota e as condições das estradas. “Diziam sempre que ‘es fea’ [em mau estado], mas que dava para fazer.” Seguiram viagem e a correia da mota partiu. Em menos de uma hora passou uma pick-up. Os dois homens ofereceram-se para levar a mota até à povoação mais próxima. “Eu estava bastante renitente”, assume Anabela. Contudo, eles lá os levaram até um “mecânico amigo”. “Pensei ‘ok, vai sair caro’. Mas não. Acabámos a almoçar com eles e o arranjo ficou-nos por menos de 10 euros.”

De um seguro de mota expirado dois dias antes, Anabela e Jorge encontraram uma das suas anedotas preferidas. Estavam perto da fronteira da Argentina e como nunca tinham sido controlados foram arriscando. Correu mal e Jorge teve de ir até à localidade mais próxima tratar dos papéis. Para lá arranjou boleia facilmente, para voltar teve mais dificuldade e demorou umas horas. Entretanto, Anabela tinha ficado sozinha, já que a brigada policial, tendo acabado o turno, abandonou o local. “Com tudo isto já estava aflita e quando vejo chegar uma carrinha de onde saem dois homens fiquei com medo.” Afinal era o Jorge, que viajou com um caixão.

Certamente que uma das anfitriãs de couchsurfing que os recebeu nesta viagem também terá uma anedota para contar. Era a sua iniciação na rede de acolhimento e eles perceberam que na primeira noite ela não largava o telemóvel. Uns dias depois, a confissão: eram mensagens de família e amigos a certificarem-se de que estava tudo bem, de que Anabela e Jorge não eram “uns psicopatas”.

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