Fugas - Viagens

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    Casablanca Miguel Manso

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Vista cá de cima, Marraquexe é um oásis

Não ficamos muito tempo. O edifício é antigo, tem belos azulejos num andar superior, e os tapetes são bonitos. Mas não viemos para comprar. E o homem que vai desenrolando carpetes à nossa frente (nem uma única mulher à vista, nem uma única referência à suposta cooperativa) desiste rapidamente da operação, ao fim de curtos minutos.

Regressamos pelo mesmo caminho. Seguimos a indicação que o nosso guia improvisado nos dera e cá estamos. O riad El Fenn é discreto no exterior, mas uma delícia lá dentro. Pátios e varandas, piscinas e recantos com ambientes muito próprios parecem estar por todo o lado, embora o nosso caminho seja para cima. De novo subimos, de novo procuramos um terraço de onde espreitar a cidade.

E o que encontramos faz-nos fechar os olhos durante largos minutos. Chegamos ao topo quando do minarete da mesquita Koutoubia ecoa a chamada para a oração do final do dia. O sol já não se vê, mas a noite não caiu totalmente. O minarete, ponto de referência de qualquer pessoa que procure orientar-se na medina de Marraquexe, está mesmo à nossa frente e a brisa fresca que anuncia o frio da noite do final do Inverno, depois do sol quente da tarde, sacode-nos os cabelos. Absorvemos a paz extraordinária daquele momento.

Quando a oração termina, abrimos os olhos e, olhando em redor, encontramos de novo a cidade da gente para quem esta é apenas a sua casa. Num telhado ali ao lado, há roupa a secar e uma mulher semi-escondida pelas peças estendidas deixa-se estar naquele pátio alto, enquanto um miúdo entra e sai, numa correria divertida, ao seu encontro. Os pratos que captam a televisão por satélite vêem-se por todo o lado. A cidade ilumina-se lá em baixo. Já não é dia. Já é noite. É hora de ir embora.

Afinal, voltamos à praça

Fugir ao habitual de Marraquexe é um programa que recomendamos, mas não para sempre. Não de tudo. Por isso, voltamos à Jemaa el-Fna. Respiramos fundo e embrenhamo-nos nos pequenos restaurantes a céu aberto que ocupam a noite local. Recusamos pegar numa cobra ou que nos tatuem as mãos. Não vamos dar uma volta de caleche e o sumo de laranja fica para outra ocasião. Mas queremos provar o gelado de canela do Café Argana. Destruído no atentado de 2011, o café voltou a encher-se de turistas, que apreciam a vista privilegiada dos pisos superiores sobre a praça.

Subimos, mas desta vez não ficamos muito tempo. O gelado de canela vende-se lá em baixo, no balcão voltado para o exterior. E é bom. Tão bom. A praça está cheia de gente, mas a mesma sensação que nos assaltara no dia anterior regressa: excepto no interior das bancadas de comida, de onde se sai com dificuldade, tantas são as solicitações, os risos, o agarrar no braço, tentando encaminhar-nos para o banco mais próximo, a Jemaa el-Fna é estranhamente silenciosa. Se é possível existir um caos calmo é aqui.

Gastamos o resto do tempo a visitar alguns dos espaços imperdíveis de Marraquexe. A belíssima Madrassa Ben Youssef, construída no século XVI, como uma cópia de uma outra escola corânica em Fez. Há turistas encostados à parede do grande pátio central, outros que percorrem, no piso superior, alguns dos 132 quartos destinados a tantos outros estudantes que ali aprenderam muito mais que o Corão.

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